Os Estados Unidos da América (EUA) são o principal destino das exportações do Ceará. Do que já foi exportado neste ano, eles representam cerca de 48% do total acumulado, segundo dados do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).
De janeiro a maio de 2023, as exportações do Ceará para os EUA já somam mais de 396 milhões de dólares. Na comparação com o mesmo período de 2022, houve um aumento expressivo de 74,4%, enquanto as exportações como um todo aumentaram 45,1% no Estado.
“Diferente do Brasil, em que o principal parceiro comercial é a China, no Ceará, os Estados Unidos representam o principal destino das exportações do Estado”, aponta Karina Frota, Gerente do CIN. “Na análise da série histórica, nos últimos dez anos os Estados Unidos aparecem habitualmente como o principal destino. O Ceará ocupa a décima posição no ranking dos estados brasileiros exportadores para os EUA”, ela completa.
Os principais insumos cearenses exportados para o mercado norte-americano são: produtos siderúrgicos, calçados, pescados e água de coco. O setor siderúrgico atualmente responde por cerca de 77% do total exportado para os Estados Unidos. Só em ferro fundido, ferro e aço, foram mais de 429 milhões de dólares exportados até maio de 2023.
“O mercado norte-americano é um mercado grande, que possui um consumo expressivo. Além disso, o produto cearense chega aos Estados Unidos com preço competitivo. Há ainda, alguns acordos comerciais que incrementam essa relação”, antecipa a gerente Karina Frota.
Um complexo favorável à exportação
O município cearense que mais exporta para os EUA é São Gonçalo do Amarante, no litoral oeste, responsável por 57% de tudo que foi vendido nesses primeiros cinco meses de 2023. Isso não surpreende considerando a importância do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) na produção de diversos insumos siderúrgicos, principal alvo das importações estadunidenses.
O Complexo do Pecém ocupa mais de 19 mil hectares entre São Gonçalo e Caucaia. Além do terminal marítimo e da primeira Zona de Processamento de Exportação (ZPE) a operar no Brasil, a Área Industrial do complexo possui cerca de 30 empresas, entre elas algumas das principais unidades fabris do nordeste brasileiro.
A relação comercial EUA-Ceará foi fortalecida nos últimos anos com o aumento das produções de minério de ferro e placas de aço, favorecida pela ZPE. Além disso, o terminal cearense é servido, desde o início de suas operações, por uma linha regular de navegação até alguns dos portos norte-americanos.
“É importante a aproximação das oportunidades de negócio que as empresas americanas podem trazer ao Pecém” aponta Mônica Luz, presidente da Câmara Setorial de Comércio Exterior (CS Comex) da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). Na análise da gestora, tanto existem oportunidades no CIPP para que as empresas norte-americanas se beneficiem, como também é de grande benefício ao Estado que as empresas dos EUA se instalem no Complexo do Pecém.
Deixando a concorrência no chinelo
Mas não é só nos metais que os americanos estão interessados: os EUA também importam muitos calçados fabricados no Ceará. Segundo dados de inteligência de mercado da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), em 2022, foram 3,96 milhões de pares de origem cearense vendidos aos Estados Unidos, somando 79,3 milhões de dólares.
De 2021 para 2022, houve um salto de 64,3% na receita e de 50,3% no volume de calçados exportados pelo Ceará para o país norte-americano. No acumulado de 2023, considerando janeiro a abril, as exportações de calçados do Ceará para os EUA somam 16 milhões de dólares (1 milhão de pares), atrás apenas da Argentina, que já desembolsou 22,9 milhões de dólares com a compra de 1,19 pares de calçados cearenses.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, lembra que hoje o Ceará é o maior exportador de calçados em volume. “O Ceará tem bastante tradição na fabricação de calçados, mas foi a partir de meados dos anos 90 que ganhou mais força, a partir da migração de fábricas provenientes do Rio Grande do Sul. Para se ter uma ideia do crescimento do setor no Ceará, no início dos anos 2000, o Estado respondia por 11% das exportações brasileiras. Em 2022 foi responsável por quase 30% (em volume).”
Ao falar sobre o que pode estar atraindo os americanos para os calçados cearenses, Haroldo Ferreira destaca as características tropicais dos produtos. “O Ceará é um grande exportador de chinelos e sandálias praianas, calçados que trazem consigo a cara de um país tropical, alegre e com muita cor”, comenta o presidente.
Outro fator positivo para essa relação surge no Relatório Setorial da Indústria de Calçados do Brasil 2023 da Abicalçados. O documento aponta que dificuldades de fornecimento de calçados chineses em 2022, devido às restrições impostas pelo combate à Covid-19 no país asiático, beneficiou outros fornecedores de calçados, como os brasileiros, especialmente no que tange às vendas de calçados para os Estados Unidos.
“Quanto às perspectivas para 2023, o cenário que se apresenta é de desaceleração, refletindo os movimentos observados nos últimos meses de 2022. Há um cenário internacional marcado por grande incerteza e taxas de crescimento econômico mais amenas, especialmente nos países desenvolvidos, bem como um retorno à normalidade das vendas internacionais de calçados chineses, aliados à uma tendência de valorização da moeda brasileira em relação ao dólar”, consta no estudo.
Dólar em risco
No tema da relação entre as moedas, não só a valorização do real se torna um risco. Em abril deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou a utilização do dólar como moeda padrão para transações comerciais entre os países e defendeu uma moeda alternativa para as trocas envolvendo nações que integram os Brics.
Com as discussões recentes sobre o papel do dólar enquanto moeda global e seus possíveis substitutos, cabe refletir se um afastamento do Brasil da moeda norte-americana poderia afetar o comércio exterior cearense.
“Ainda existe muita especulação em relação a este tema. A maior parte das nações globais negociam em dólar. O dólar alto, ao mesmo tempo que aquece o mercado interno, impulsiona as vendas internacionais”, afirma Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios da FIEC.
Já Mônica Luz da CS Comex destaca que, apesar das relações comerciais entre Brasil e EUA serem complexas, ambos os países compartilham da adesão de importantes organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas e Organização Mundial do Comércio, têm interesses econômicos e mantêm uma relação comercial mútua.
Em maio de 2022, por exemplo, o Governo do Ceará assinou um Memorando de Entendimento que estabeleceu uma parceria inédita entre os dois governos, reforçando o relacionamento institucional com os Estados Unidos e também as ações estratégicas de internacionalização do Estado.
Com relação às ambições da gestão estadual para as exportações e relações comerciais com os norte-americanos, Mônica destaca que “o grande desafio é dar continuidade e fortalecer projetos que já vinham sendo desenvolvidos entre o Ceará e os Estados Unidos.”