Cada dia mais motociclistas estão nas ruas, como apontam novos dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Só no primeiro semestre de 2023, a venda de motos aumentou 22,5% no Brasil, com um total de 780.070 unidades emplacadas no período.
Com esse aumento no número de motos em circulação — impulsionado também pela crescente demanda por motociclistas a serviço de aplicativos — aumentam os índices de acidentes no trânsito, nos quais os motociclistas lideram as estatísticas de mortalidade.
Em 2022, ano em que Fortaleza alcançou o 8º ano consecutivo de redução de mortes no trânsito, os motociclistas corresponderam a 47% dos óbitos nas vias; 75 das 158 mortes registradas. Apesar de ser uma redução de cerca de 13% nesse número em relação ao ano anterior, a maior exposição desse público nas vias merece preocupação.
A estudante universitária Julia Ribeiro, 22, envolveu-se em um acidente de trânsito em novembro de 2022, no cruzamento entre as Ruas Dom Lino e Gustavo Sampaio, no bairro Parquelândia, em Fortaleza. Um motociclista avançou o sinal vermelho e foi atingido pelo carro da jovem, que voltava da academia por volta das 22 horas.
“A sorte foi que, apesar de ele estar bem rápido, o sinal tinha acabado de abrir e meu carro estava a uns 10km/h, então consegui parar. Como ele bateu apenas no “focinho” do carro, o motoqueiro se jogou para o lado e acabou escorregando para debaixo do carro parado, então ele só teve uns arranhões”, relata a motorista.
O motociclista em questão foi atendido no local pela estudante de Direito e por outros motoristas que testemunharam o ocorrido. “Ele disse de imediato que tinha a culpa no acidente” relata Julia, que se ofereceu a levar o motoqueiro para o hospital, mas ele recusou.
“Segundo o motorista, a moto dele estava com algum problema no freio, e isso fez com que ele não conseguisse parar. Mas ao mesmo tempo, a gente sabe que não é incomum as pessoas cruzarem sinais vermelhos em áreas menos movimentadas em horários mais tarde da noite”, analisa a jovem.
Educação e conscientização
Um estudo da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza aponta que os motociclistas entregadores de aplicativo percorrem de 70 a 120 quilômetros diariamente. Para o órgão, o volume de entregas e a carga horária de trabalho, que se estende por até 11 horas diariamente, pode ter relação com as infrações mais comuns cometidas, como avanço de sinal de vermelho e trafegar acima da velocidade permitida.
Pensando nisso, ao longo do ano, a Autarquia está direcionando treinamentos de pilotagem segura a esse público em parceria com a Associação dos Trabalhadores de Aplicativos de Fortaleza (ATAF). Nesta quinta-feira (27), Dia do Motociclista, mais uma mobilização acontece na Av. Desembargador Gonzaga, próximo à Igreja da Glória, a partir das 15 horas.
Durante a abordagem, serão distribuídos folhetos com orientações de segurança viária. O principal objetivo é alertar quanto ao uso do capacete que, quando afivelado corretamente, reduz em até 40% o número de mortes e em 70% a probabilidade de lesões graves.
Redução de velocidade
Outra iniciativa que é foco das ações da AMC e pode prevenir acidentes graves, inclusive com motociclistas, é a redução da velocidade máxima em algumas das maiores vias de circulação da capital. Já foram pelo menos 50 vias readequadas, incluindo as avenidas Dom Manoel, Aguanambi, Porto Velho e Treze de Maio.
Segundo a AMC, o número de acidentes com mortes caiu 68,1% nas vias onde a velocidade foi readequada. A Avenida Leste-Oeste, primeira da capital a operar com 50 km/h, tinha uma média de 11 óbitos por ano e, em 2022, nenhuma morte foi registrada. Apesar disso, a medida gera repercussão entre os fortalezenses, que se polarizam na questão.
“Sem dúvidas, a redução de velocidade das ruas ajuda a prevenir que os acidentes tenham resultados mais sérios, ainda que ela não ajude a prevenir a maioria dos acidentes em si”, avalia a estudante Julia Ribeiro que, após o susto do acidente, passou a ser ainda mais cautelosa no volante. Para ela, porém, a medida por si só não é suficiente.
“Na minha opinião, o problema do projeto de redução é que eu não tenho visto ele ser acompanhado de uma fiscalização efetiva. Não adianta colocar em todas as ruas o limite de 50km/h, a contragosto da maior parte dos motoristas, se não forem tomadas medidas para fiscalizar o cumprimento dessa medida”, finaliza.