A forte queda da inflação fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela primeira vez em três anos. Por 5 votos a 4, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano.
Desde 2020, o Copom tinha elevado a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis, e, a partir de agosto do ano passado, manteve a taxa em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
A decisão desta quarta-feira (02) surpreendeu o mercado financeiro, que esperava um corte de 0,25 ponto, fez bancos públicos anunciarem mudanças em crédito consignado, e gerou repercussão entre entidades industriais, sindicais e entre ministros do governo. Confira:
Setor produtivo
Entidades do setor produtivo avaliam que o corte de 0,5 ponto percentual na Taxa Selic veio num momento necessário para ajudar na recuperação econômica do país. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que considera acertada a decisão do BC.
A entidade pede, porém, cortes maiores nas próximas reuniões porque avalia que os juros ainda estão em níveis contracionistas, que desestimulam a produção e o consumo. A CNI pede a aprovação no novo arcabouço fiscal e de reformas importantes, como a tributária, para que os juros possam cair mais no futuro.
Em nota divulgada à imprensa, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também considerou correta a decisão do Copom. Para a entidade, “em um ambiente em que as incertezas vão se dissipando, com redução da percepção do risco inflacionário, as justificativas que mantinham a taxa de juros em níveis elevados são eliminadas”.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) comemorou a redução da Selic. “O corte de 0,5 ponto vem em linha com os indicadores recentes da economia, como a queda da inflação, e sinalizam que a taxa de desemprego e a renda da população poderão melhorar, ampliando assim o consumo das famílias e permitindo o crescimento da economia”, afirma em comunicado o presidente da Abras, João Galassi.
Centrais sindicais
As entidades de trabalhadores também elogiaram o corte, mas informaram que a mobilização contra a política monetária do Banco Central continua. Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o primeiro corte da Taxa Selic em três anos resultou do aumento da pressão, em especial nos últimos meses, por parte de diversos setores da sociedade civil contra os juros altos praticados no país.
A CUT calcula que a política de juros altos drenou R$ 700 bilhões da economia em um ano. A entidade, no entanto, ressalta que o Brasil continua com um dos maiores juros reais do planeta (juros menos a inflação), em torno de 8% ao ano, e anunciou a continuação dos protestos na porta do Banco Central para pedir cortes maiores nas próximas reuniões.
A Força Sindical avalia que o BC acertou na decisão, mas errou na dose. A entidade considera insuficiente o corte de 0,5 ponto na Taxa Selic, e afirma que irá continuar na luta pela redução da Taxa Básica de Juros. “Juros exorbitantes inibem o consumo, a produção e, consequentemente, a geração de postos de trabalho”, ressalta em nota o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.
Bancos e finanças
A decisão do Copom motivou os bancos públicos a se apressarem em anunciar taxas menores no empréstimo consignado. Pouco depois do anúncio desta quarta-feira (02), a Caixa Econômica divulgou a redução de 1,74% para a partir de 1,70% ao mês nas taxas de juros do Crédito Consignado para beneficiários e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O Banco do Brasil, por sua vez, reduziu taxas nas linhas de crédito consignado e automático, entre outros. A exemplo da Caixa, o BB reduziu os juros do consignado do INSS. Nesse caso, taxa caiu de 1,81% ao mês para 1,77% ao mês, na faixa mínima, e de 1,95% ao mês para 1,89% ao mês no patamar máximo.
Apesar disso, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a redução da taxa Selic deve baratear pouco o crédito e as prestações. Com o impacto na ponta final diluído, por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de novos empréstimos sentirá pouco os efeitos do afrouxamento monetário.
Segundo a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 126,23% para 125,22% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 62,21% para 61,46% ao ano. A Selic passou de 13,75% para 13,25% ao ano.
A Anefac também produziu uma simulação sobre o impacto da nova taxa Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 13,25% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando o prazo da aplicação é curto e a taxa de administração cobrada pelos fundos é alta.
Ministros
Ministros do governo Lula consideram que a queda da Selic ocorre após a economia apresentar condições necessárias e projetam novas reduções dos juros nos próximos meses. O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, prevê uma taxa ainda menor nos próximos meses “Os índices de inflação caíram todos, as perspectivas melhoraram e estamos avançando com reformas importantes em torno de um país mais justo e próspero”.
Para Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, o corte de 0,5% dos juros, acompanhado do indicativo de mais reduções adiante, mostra que o Banco Central fica em sintonia com o cenário atual, de queda da inflação e de melhoria fiscal. “Os avanços institucionais do país nos últimos sete meses, incluindo a aprovação da reforma tributária pela Câmara, tem gerado as condições para os cortes nos juros”, disse em rede social.
“Juros mais baixos no Brasil significa que o empresário, o comerciante e você pode pegar empréstimos a valores mais baratos e com isso fazer com que a economia gire mais rápido. Mais emprego, mais investimento, melhorar a vida de cada um”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Na avaliação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, a redução indica que o Brasil está no rumo certo. “Seguimos trabalhando por um crescimento econômico sólido e que promova melhorias ainda mais concretas na vida dos brasileiros”, afirmou.