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Brasileiros entre 16 e 24 anos são os mais insatisfeitos com a saúde mental. “Os jovens não se frustram mais”, diz psicóloga

Conforme apontou levantamento, feito pelo Datafolha, 3 em cada 10 brasileiros se sentem ansiosos, porém apenas 7% das pessoas avaliam sua saúde mental como ruim ou péssima. Jovens de 16 a 24 anos são os mais insatisfeitos
O levantamento revela que 7% das pessoas avaliam sua saúde mental como ruim ou péssima. Foto: Freepik.

3 em cada 10 brasileiros se sentem ansiosos. É o que revela a pesquisa do Datafolha, divulgada no último sábado (19), sobre a saúde mental no Brasil. Ansiedade, problemas com sono ou alimentação foram sinais relatados pelos entrevistados. No entanto, ainda que percebam desânimo e falta de prazer em realizar tarefas, os brasileiros têm uma percepção diferente da própria saúde mental. 

O levantamento revela que 7% das pessoas avaliam sua saúde mental como ruim ou péssima. Cerca de 70% dos entrevistados acreditam ter uma saúde mental ótima ou boa. Outros 23% a consideram regular. Na divisão por idade, o corte de 16 e 24 anos teve o pior resultado, com 13% de ruim ou péssimo. A psicóloga clínica Lívia Melo, pós graduanda em Neuropsicologia, explica que essa tendência nessa faixa etária pode estar relacionada a três fatores: eletrônicos, cultura pela aparência e velocidade e exclusão de estímulos.

Segundo a profissional, os eletrônicos como a Internet e o videogame têm levado os jovens a uma fuga social “muito grande”. “Tem uma pesquisa também que fala que quanto mais o ser humano interage socialmente mais feliz ele é. Quanto mais ele se isola socialmente mais tendência ele tem a ter algum tipo de transtorno mental”, diz.

A estudante universitária Ana Grazielly, de 22 anos, faz terapia terapia desde criança por recomendação de profissional de saúde. “Inicialmente junto à fonoaudiologia por questões de atraso de desenvolvimento, como a fala e habilidades sociais”. “Voltei há oito anos por questões emocionais e por me incomodar com a minha dificuldade de socialização, que melhorou depois de ter ido de novo pra terapia”, relata. 

Além de se encaixar na faixa etária da pesquisa, Ana menciona ter “dificuldade de socialização”, ponto citado pela psicóloga Livia. Segundo a estudante, muitos jovens, especialmente quem não vem de camadas sociais muito abastadas acabam por ene motivos não tendo uma saúde mental muito boa. 

“Creio que o sistema de trabalho vigente e o índice de desemprego que ainda é acentuado acaba não correspondendo às demandas atuais, o que acaba dando uma piora na saúde mental de certa forma”, afirma.

No seu caso particular, Ana diz que a terapia, mesmo não sendo um remédio que a faça ser curada, ajuda nas questões que ela passa. “Então seria pior se eu não estivesse, pois não posso parar de fazer”, diz. Questionada sobre como vê a sua própria saúde mental, Ana avalia “não como uma das melhores, mas não muito ruim, seria pior se eu não tivesse [fazendo terapia]”.

Outro ponto predominante é “cultura por uma felicidade sempre”. Redes sociais como TikTok, Instagram e Facebook contribuem para o fomento dessa indústria.

“Essa cultura para a perfeição é muito grande. Eles se cobram de uma forma muito exacerbada, e isso não existe, isso é fake. Não tem como ser”.

Livia cita ainda a velocidade e a exclusão de estímulos como causadores de ansiedade. “O ser humano não foi preparado para isso”. “Porque hoje os jovens adultos não se frustram mais, eles não têm muitas dificuldades e muitos obstáculos. Então eles não estão acostumados com isso”, pontua.

Nesse sentido, entra um outro personagem na história: os maus hábitos.  

‘Antigamente não tinha a facilidade do Ifood, do Uber. Hoje, eles não precisam esperar nada. Até para assistir um filme, se for no YouTube, você pode pular todos os anúncios, passou desse vídeo, vai para outro. Então a vida fica entediada pra eles muito rápido. E eles não sabem lidar com isso. Porque eles não estão sendo preparados emocionalmente para as coisas, porque não se frustram”, afirma. 

Outro fator importante a ser destacado, segundo Livia, é o quanto os pais não estão ajudando esse comportamento dos adolescentes ou dos jovens adultos. “Porque muitas vezes os pais mesmo se colocam como protetores e não deixam que os filhos enfrentem aqueles medos ou enfrentem aquelas dificuldades para que eles possam amadurecer e se desenvolver”, explica.

Mulheres estão mais propensas a ansiedade e depressão que os homens

Ainda segundo o levantamento do Datafolha, em relação ao gênero, 27% das mulheres já tiveram diagnóstico de ansiedade e 20% de depressão — o dobro da taxa registrada para homens. 

Para explicar esse índice, a psicóloga Livia Melo menciona diversas razões, que vão desde fatores fisiológicos até relações sociais, mercado de trabalho, e relacionamento próprio. 

“Os hormônios femininos têm uma facilidade, a mulher por si só tem uma facilidade maior em ter quadros crônicos inflamatórios. Inflamar o corpo de diversas formas. Quanto mais inflamado for o corpo da mulher, mais probabilidade ela tem de ter um quadro depressivo”, explica.

Além da parte fisiológica, vem a questão da mulher nos dias atuais em assumir inúmeros papéis. “Ela é esposa, ela é mãe, ela é filha, ela é uma profissional que trabalha em período integral, ela tem que viver se capacitando, se não ela não acompanha o mercado de trabalho’.

Segundo a psicóloga, a mulher muitas vezes não consegue, “naturalmente” ligar com a vida pessoal com a profissional. “Leva a um burnout. Que é um esgotamento emocional que a mulher geralmente tem”, diz. Ainda existe, segundo ela, a cobrança “exacerbada” da sociedade para que se tenha o corpo perfeito, para que se esteja com o botox em dia.

“Então financeiramente, se você não tiver dinheiro para fazer uma academia, para poder fazer uma alimentação bacana, esses cuidados estéticos que a mídia coloca como essenciais para seguir os padrões de beleza. Tudo isso vai contando. Quando ela não se percebe com esses padrões que para ela são tão importantes para se achar parte da sociedade, isso também causa uma cobrança muito grande”, finaliza.

Sobre a pesquisa Datafolha

A sondagem foi realizada entre os dias 31 de julho e 7 de agosto, com 2.534 pessoas de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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