Nas últimas semanas, dois grandes casos de incêndios fatais em locais fechados causaram impacto mundo afora. Em 26 de setembro, um incêndio atingiu um casamento no Iraque e deixou 114 pessoas mortas. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o momento em que o incêndio começa e o teto do salão de festas pega fogo.
Fogos de artifício foram acesos ao redor dos noivos, dando início ao incêndio e causando pânico entre os convidados. Flores penduradas em uma enorme estrutura acima do casal parecem atuar como combustível para as chamas, pegando fogo quase imediatamente à medida que as brasas caem no chão.
Poucos dias depois, na madrugada de 1º de outubro, um incêndio na cidade espanhola de Múrcia destruiu três discotecas e deixou pelo menos 13 mortos. As pessoas que morreram estavam todas no mesmo espaço de diversão noturna, no primeiro piso do edifício, onde comemoravam um aniversário.
As causas do incêndio estão sendo apuradas, mas já foi divulgado que a discoteca mais afetada pelas chamas funcionava ilegalmente desde o ano passado, depois de ter vencido a licença municipal de funcionamento. Nas redes, o caso trazia lembranças do incêndio na Boate Kiss, que abalou o Brasil em 2013. Os culpados voltaram a ser julgados neste ano.
Capitão Bentemuller, que atua no Comando de Engenharia de Prevenção de Incêndio (CEPI) do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Ceará (CBMCE), fala sobre os requisitos que estabelecimentos devem ter para garantir a segurança dos frequentadores e também o que se pode fazer em caso de um incêndio já em andamento. Confira:
Legislação e certificação
Na visão do capitão Bentemuller, houve uma evolução no Brasil desde o acidente da Boate Kiss com relação à prevenção e o combate a incêndios nesse tipo de edificação. Ele destaca principalmente o avanço na legislação, que se tornou mais exigente para esse tipo de estabelecimento com a Lei Federal 13.425, de 2017.
“Aqui no Ceará nós temos uma legislação que trata da regularização das edificações no quesito de segurança contra incêndio e pânico. Todas as edificações precisam, para funcionar ou para serem construídas, de um certificado de conformidade emitido pelos Bombeiros, atestando que aquela edificação possui os equipamentos de proteção adequados para a atividade que ela desenvolve”, afirma o bombeiro.
Segundo ele, o único tipo de edificação que é isenta dessas medidas, que são de responsabilidade do proprietário, é a residência unifamiliar. “As outras, seja ela uma boate, um comércio, um depósito, um condomínio, todas elas precisam do certificado do Corpo de Bombeiros”, pontua.
Dentre os equipamentos que essas edificações precisam ter estão: equipamentos de proteção, extintores, hidrantes, sinalização de emergência. Tudo de acordo com o que é prescrito na norma técnica. “Isso para que no caso de um incidente que envolva fogo, essas edificações possam estar protegidas, minimizando assim os riscos à vida da pessoa, dos usuários e também do patrimônio daquele local”, afirma Bentemuller.
Sinais de alerta
O bombeiro alerta que alguns sinais podem ser percebidos pelo cidadão para que ele fique alerta à insegurança de um local. “Com a educação, com a divulgação do conhecimento e dessa mentalidade de prevenção, ele pode observar justamente se na edificação existem esses equipamentos de proteção, de naquela edificação existe um extintor, se aquele extintor está bem sinalizado…”
Outra observação importante é se há a presença de um brigadista no espaço. Também é valioso verificar possíveis rotas de fuga e se há saídas suficientes no local. “É importante que esses locais tenham no mínimo duas saídas, uma de entrada que pode ser utilizada como entrada e saída, assim como uma outra também de escape”, afirma o capitão.
“Então uma análise simples que você pode fazer é justamente pensar dessa forma: em caso de um incidente aqui, se acontecer algum sinistro, alguma eventualidade, como eu vou conseguir sair desse local? Existe uma rota segura? Existe uma saída suficiente para evacuar as pessoas desse local? Está bem sinalizado isso, tem iluminação, tem algum equipamento que possa ser utilizado para ajudar?”, completa.
Outra opção que o cidadão tem é verificar a documentação de regularidade do local, como alvará da prefeitura ou certificado de conformidade, que os estabelecimentos costumam anexar logo na entrada. “Então este poderia ser um ponto de verificação já pra ali de cara o cidadão observar se o local possui o certificado ou não do Corpo de Bombeiros”.
“A pessoa que vai realizar o evento já deve ter essa consciência de que precisa do certificado de conformidade, precisa da certificação do Corpo de Bombeiros antes da realização do evento, portanto ela já tem que dar entrada no processo antes que esse evento aconteça, para que ele possa acontecer de forma segura, dentro das normas”, reforça.
O que fazer em caso de incêndio
Servidor do Comando de Engenharia de Prevenção de Incêndio, capitão Bentemuller também dá dicas importantes sobre como se comportar diante de um incêndio já em andamento em local fechado e com muitas pessoas.
“A orientação que a gente dá é que a pessoa tente sair da forma mais rápida e ordeira possível daquele local. E os equipamentos de segurança, as rotas de fuga, sinalização de emergência, iluminação, vão ajudar nisso. Se você tiver saídas de emergência suficientes, vai ser mais fácil conseguir escapar daquela edificação”, explica.
“E claro, ligar pro Corpo de Bombeiros 193, solicitando ali ajuda num espaço de tempo o mais rápido possível para que a gente possa atender de forma efetiva e não deixar que aquele incêndio tome proporções maiores”, finaliza o bombeiro.