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A vida após o câncer de mama: buscando qualidade de vida uma remada de cada vez

Mulheres que sobreviveram ao câncer de mama conquistam títulos e resgatam a auto-estima qualidade de vida por meio da canoagem.
Fundada em Fortaleza, a Associação Lua Rosa, dentre outras coisas, estimula a prática da canoagem entre mulheres que tiveram câncer de mama. (Fotos: Arquivo pessoal)

O câncer de mama, o mais incidente em mulheres no mundo, não é uma sentença de morte. Muitas mulheres são sobreviventes, guerreiras que vivenciaram a luta contra o câncer e que, juntas, formam um verdadeiro Movimento Rosa em prol da causa, por mais informação, prevenção e qualidade de vida.

Dentro dessa qualidade, entra o esporte. E você sabia que existe um esporte oficial do câncer de mama? A canoagem dragon boat, inspirada nas corridas chinesas de barcos-dragão, foi trazida ao movimento rosa brasileiro pela remadora e sobrevivente Cleusa Alonso, fundadora do movimento Remadoras Rosa do Brasil.

A ideia nasceu no Canadá em 1995, quando o médico Dom Mckenzie reuniu 22 mulheres mastectomizadas e voluntárias, e as preparou por seis meses em técnicas de canoagem. Ao final da pesquisa, os resultados foram surpreendentes: além dos benefícios físicos e emocionais, houve a diminuição do linfedema, colaborando assim com a prevenção. 

Em Fortaleza, a modalidade é praticada por mulheres da Associação Lua Rosa. Idealizado pela sobrevivente e advogada Karla Veruska, o projeto, dentre outras coisas, estimula a prática da canoagem entre mulheres que tiveram a doença. Hoje, são mais de 300 associadas, diversas remadoras e alguns títulos conquistados na modalidade.

“A gente foca no depois, numa transformação de vida, de que tudo podemos. Não é uma doença no nosso caminho que vai nos parar. E é isso que a canoagem mostra. O esporte na vida dessas mulheres, que jamais imaginaram que um dia poderiam competir, fortifica, une”, descreve a fundadora.

Conheça mais sobre as remadoras rosas do Ceará:

Origens

Mais do que uma associação de canoagem, a Associação Lua Rosa traz empoderamento e transformação para mulheres que tiveram câncer de mama. Karla Veruska conta que o projeto surgiu a partir do desejo que ela tinha em se comunicar com outras jovens sobreviventes, assim como ela. A ideia era ter informações sobre o que fazer após o tratamento do câncer. 

“A gente se sente muito perdida e eu queria mais informações, saber de onde vinha, todos os efeitos colaterais, o que fazer com relação à sexualidade, eu tinha muitas dúvidas e encontrei nesse caminho duas pessoas, duas meninas maravilhosas que toparam fazer essa ONG comigo”, relata.

Karla sentiu que faltava na cidade uma organização que cuidasse de mulheres sobreviventes que queriam ter uma vida saudável e feliz, longe dos estigmas do câncer. “Muitos nos alegra que hoje várias ONGs estão deixando aquele perfil assistencialista básico de entregar comida, roupa, e estão tendo uma visão mais ampla de que a vida não se baseia só na questão da sobrevivência básica e sim da sobrevivência de vida”, explica.

A advogada Karla Veruska fundou a Associação Lua Rosa há cerca de três anos. Foto: Arquivo pessoal.

Rapidamente, à medida em que começava a se divulgar, a Associação foi atingindo diferentes cantos de Fortaleza. “Em um mês tinham 50 mulheres, em dois tinha 70, e a gente fechou o terceiro com 100 mulheres. No segundo ano, eram 150. Agora que a gente fez três anos, a gente tem cerca de quase 300 associadas”, conta a fundadora.

Dentre seus pilares, o projeto fornece grupos terapêuticos online e ajuda psicológica às associadas, em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor). Outra parceria importante, com a Universidade Estadual do Ceará (Uece), deu origem a um curso preparatório para concursos públicos.

Canoagem

A partir do seu trabalho e atuação nas redes sociais, Karla foi encontrada pela Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), que a incentivou a formar uma equipe rosa de remadoras em Fortaleza. À época, o Movimento Rosa estava chegando ao Brasil e havia a intenção de que cada cidade tivesse ao menos uma equipe.

Então ela chamou outras amigas para compor esse núcleo da canoagem e, de repente, tudo começou a correr de vento em popa. “Foi uma coisa tão linda que em pouco tempo a gente já tinha um time. E quando entramos na água pela primeira vez foi uma sensação indescritível”, conta. Em três meses, a Lua Rosa já estava realizando campeonatos internos. Depois, veio o sucesso em torneios nacionais. 

Em outubro do ano passado, a equipe participou do 1º Festival de Dragon Boat de Mulheres Sobreviventes do Câncer de Mama, realizado em Brasília, no Lago Paranoá. O evento reuniu 350 mulheres de 17 equipes do Brasil, Canadá, Estados Unidos, Argentina, Chile, Colômbia e Panamá.

O Dragon Boat Lua Rosa ficou em segundo lugar, atrás apenas das americanas, que têm tradição no esporte. “A gente não tem o barco dragão, mas ficamos em segundo lugar porque a gente treina muito aqui no mar, na canoa havaiana”. Em outubro, 22 remadoras do Lua Rosa Dragon Boat vão representar o Ceará na 2ª edição do Festival, que acontecerá novamente em Brasília.

Neste ano, a equipe conseguiu levar doze meninas para competir na 1ª Regata Rosa, em Maceió. O grupo foi 3º lugar no Dragon Boat e 1º e 2º lugar na categoria de canoa havaiana. 

Transformador e emocionante. É assim que Karla descreve o dragon boat, um barco-dragão de tradição chinesa usado para celebrações comunitárias. 

“O dragão é diferente de qualquer embarcação. O tambor simboliza as batidas do coração, o leme simboliza a cauda que vai se mexendo, os remos são as patas. E na sincronia da batida, você rema… Antes você estava em situação de total penúria. Há muitas que passam mal durante a quimioterapia, durante a cirurgia, durante um tratamento tão longo e doloroso. E depois você está ali remando, junto com outras pessoas fazendo aquilo ali andar, fazendo flutuar. Meu Deus, como é lindo e emocionante”, completa.

Hoje, a Associação Lua Rosa tem o desejo de adquirir um barco dragão próprio, mas ainda não tem as condições. “Eu sou advogada, minhas colegas são professoras, empresárias… Tem gente de toda classe social, tem gente que não tem condições mas que exerce uma função voluntária. Então nossa ONG não tem recursos financeiros, tem um excelente corpo de conhecimentos, de cabeças que fazem isso funcionar de forma como se tivesse muito dinheiro. Somos movida por paixão, por amor ao próximo”, finaliza.

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