Nesta quinta-feira (19), chega aos cinemas o mais novo filme do premiado diretor Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”. A obra é baseada em uma história real e trágica que ocorreu em Oklahoma (EUA), na década de 1920, quando vários membros de uma comunidade indígena foram assassinados após descobrirem uma quantidade valiosa de petróleo em suas terras.
A mente por trás de sucessos como “Taxi Driver”, “Os Bons Companheiros” e “O Irlandês”, Scorsese afirma que sempre quis dirigir um longa-metragem com a temática de velho oeste, e encontrou essa oportunidade depois garantir os direitos de adaptação do livro do jornalista americano David Grann, que conta a mesma história do filme.
Scorsese começou a escrever o roteiro sobre o ponto de vista do mesmo protagonista do romance, o agente florestal Tom White, um dos responsável por investigar as mortes. No entanto, uma indagação levantada por Leonardo DiCaprio, que estrela o longa, fez o cineasta mudar sua percepção sobre a obra e reescrevê-la completamente.
“Onde está o coração desta história?”, questionou o ator, que é ativista das causas indígenas. Martin Scorsese encontrou sua resposta nos Osage, a tribo indígena vítima do grande massacre.
Antes que você assista “Assassinos da Lua das Flores”, a UrbNews faz uma viagem no tempo para conhecer a história real que serviu de inspiração para o filme, e que se tornou um dos eventos mais importantes e esquecidos da história dos Estados Unidos.
Quem são os Osage
Os Osage são uma nação indígena que cresceu nos vales e rios entre Ohio e Mississipi. Também são conhecidos como NiuKonska, ou Ni-U-Kon-Ska, que significa “filhos das águas médias”. No começo da década de 1920, eles foram realocados à força pelo governo americano, estabelecendo morada no que hoje é o estado de Oklahoma. A tribo comprou terras e conseguiu criar um “território indígena” no local.
Eles achavam que a nova terra nada traria de especial, que era infértil e sem vida. Contudo, tudo mudou quando encontraram um dos maiores poços de petróleo do mundo em suas escavações. Do dia para a noite, os Osage ficaram milionários, e a partir daí romperam com todos os estereótipos que se tinha sobre os povos indígenas até então.
Os jornais da época se referiam a eles como “os milionários vermelhos”, na forma de escárnio, pois vestiam casacos de pele, moravam em mansões e usavam jóias caras. Mas essa alegria durou pouco, pois em 1921 vários indígenas da região foram encontrados mortos e vários outros desaparecidos misteriosamente.
Os massacres
Também em 1921, dois membros da nação Osage foram encontrados mortos a poucos dias de diferença. Seus nomes eram Anna Brown e Charles Whitehorn, e ambos foram achados de maneiras similares: baleados e deixados em áreas rurais isoladas.
Durante o período que a nação chama de “Reinado do Terror”, 24 indígenas foram assassinados na região. As mortes variavam, mas sempre se voltavam às mesmas circunstâncias: tiros na cabeça, desaparecimento de pessoas e envenenamento.
A situação da tribo Osage era realmente desesperadora, até que Mollie Brown, irmã da falecida Anna, resolveu agir. Ela contratou, por contra própria, o jovem investigador J. Edgar Hoover, que dirigia um escritório do Departamento de Justiça, chamado “Escritório de Investigações”. Esse foi o seu primeiro caso.
Com a ajuda do guarda florestal do Texas chamado Tom White, eles conseguiram desvendar uma das maiores conspirações assassinas da história estadunidense. Após meses de trabalho, descobriram os nomes dos culpados pelas mortes. Foram eles: William Hale, tio de Mollie e um poderoso fazendeiro da região, junto do marido da moça, Ernest Burkhart. Foi descoberto também que eles planejavam matar a Mollie.
David Grann, autor do romance investigativo que conta a história do massacre, conta que, apesar de terem descoberto os assassinos, a maioria deles acabou em liberdade. A investigação acabou sendo bem sucedida e usou métodos bastante modernos para a época, mas também expôs o preconceito e a indiferença dos Estados Unidos quanto aos seus povos nativos.
O envolvimento da Nação com o filme
O ex-chefe dos Osage, Jim Gray, recentemente se pronunciou em relação ao seu envolvimento com a produção da obra do Scorsese. Ele é descendente direto de Henry Roan, um indígena cujo assassinato levou o FBI a descobrir os autores dos crimes.
Em uma postagem feita no X, antigo Twitter, ele comentou que teve acesso antecipado ao filme e que o diretor trabalhou diretamente com ele e outros descendentes dos Osage assassinatos para transportar a história da maneira mais fidedigna e respeitosa possível para as telonas.
“O chefe [da nação] nomeou representantes para consultar os cineastas e ofereceram a reserva para filmar o filme no local, além de se comunicarem com os falantes da língua nativa e contratar o nosso pessoal para atuar na frente e atrás das câmeras”, ele comenta.
Por fim, Gray afirma que a produção é muito além de apenas um longa-metragem, mas que é uma história que aconteceu e que ainda se faz muito presente no cotidiano da comunidade. Ele qualifica o filme como “excelente” e ainda faz um alerta de que o público “não vai esquecer o final”.