“A transição energética incentivou professores a organizarem projetos educacionais que utilizam os dados de economia energética como recursos didáticos”, é assim que Ubirajara Júnior, professor de Biologia, avalia um dos resultados da instalação de painéis fotovoltaicos em escolas estaduais do Ceará, uma iniciativa entre a Secretaria da Infraestrutura (Seinfra) e a Secretaria de Educação (Seduc).
“Nosso objetivo é expandir esse projeto progressivamente para outros estabelecimentos de ensino da rede estadual”
Secretaria de Educação do Estado do Ceará
Ubirajara é professor na EEFM Aloysio Barros Leal, localizada no bairro Barroso, em Fortaleza, uma das 32 escolas que receberam os painéis solares da primeira licitação. Atualmente, a rede estadual de educação possui 754 escolas. O projeto não tem um nome específico, mas as suas marcas são nítidas nas escolas que receberam as instalações.
Reconhecido com prêmios nacionais, sendo um deles o Troféu PAINEL 2023, do Instituto Besc, o “GD (Geração Distribuída) nas escolas estaduais”, o projeto de energia solar em escolas públicas do Estado uniu a educação e a preocupação com produção de energias renováveis, duas áreas de destaque no Ceará.

A parceria entre as duas pastas do executivo estadual teve início em 2020, quando foi aberta a licitação para a instalação de módulos fotovoltaicos em 32 escolas públicas do Estado. Segundo o Governo Estadual, o objetivo do projeto era incentivar as fontes renováveis e assim melhorar a eficiência do uso da energia e modernizar as instalações de ensino administradas pelo Poder Público.
Para a Seduc, a iniciativa se mostrou promissora em eficiência energética e trouxe um retorno econômico considerável para os cofres estaduais. Com os resultados, a pasta pretende replicar o projeto e expandir para outras escolas pelo estado.
“Esta é uma iniciativa muito nobre e eficiente. Além de trazer eficiência energética para escolas, a instalação dos sistemas fotovoltaicos significa redução de custos com energia elétrica, promovendo economia para o Estado. Nosso objetivo é expandir esse projeto progressivamente para outros estabelecimentos de ensino da rede estadual”, anunciou a Seduc.
A geração distribuída nas escolas estaduais
“A principal motivação para essa escolha foi que os alunos das escolas beneficiadas poderiam acompanhar as instalações e receberiam treinamento sobre as vantagens de aproveitamento dessa fonte”
Alfredo Serejo, coordenador de Energia e Telecomunicações da Seinfra.
Foram instaladas, no total, 3.500 placas solares em todas as escolas que fizeram parte do edital. Para tanto, foi necessário um investimento de R$ 8,8 milhões, provenientes do Fundo de Incentivo à Eficiência Energética e Geração Distribuída do Ceará (FIEE), que é administrado pela Seinfra.
O Coordenador de Energia e Telecomunicações da Seinfra, Alfredo Serejo, em entrevista à Urbnews, reafirmou os objetivos da iniciativa e salientou os aspectos ambientais que esse projeto procurou desenvolver.
“A ideia foi criar ações de eficiência energética nos prédios públicos do Governo no Estado e a geração distribuída surgiu como uma opção bastante válida, tanto pelo retorno econômico, quanto pela contribuição ambiental proporcionada por uma geração de energia utilizando uma fonte limpa e inesgotável, além de bastante disponível em nosso estado que é a fonte solar”, pontuou.
A escolha desse tipo de energia foi estratégica e os benefícios para a Educação resultantes da iniciativa iniciaram antes mesmo do retorno financeiro gerado pela economia que os painéis geraram. Segundo o coordenador, os estudantes acompanharam as instalações e aprenderam sobre a importância desse tipo de energia.
“A principal motivação para essa escolha foi que os alunos das escolas beneficiadas poderiam acompanhar as instalações e receberiam treinamento sobre as vantagens de aproveitamento dessa fonte energética tão abundante em nosso estado”, explicou.
Com a conclusão das instalações dos painéis nas 32 escolas tendo acontecido no final de 2023, a previsão de economia com energia elétrica é de aproximadamente R$ 970 mil por ano, explicou Serejo.
Tanto a Seinfra quanto a Seduc explicaram que esses valores dessas economias retornam aos cofres do Tesouro Estadual do Ceará, de onde a Secretaria da Educação faz a gestão desse recurso, sendo assim um fomento aos investimentos na produção educacional do Estado.
Impactos na educação
“Além de indiretamente conscientizar os alunos de escola pública da possibilidade da utilização de fontes de energias limpas”
Maurício Arthur, estudante.
O professor Ubirajara Júnior compartilhou ainda que a mudança contou com a ajuda do corpo docente e estudantes e salientou que atualmente as placas são responsáveis integralmente pelo abastecimento.
“A transição para o uso de energia solar envolveu a instalação dos painéis e a capacitação de professores e estudantes. Eles receberam treinamento sobre o uso e a manutenção das placas solares, além de acesso a um aplicativo que permite acompanhar a produção e o consumo de energia. Atualmente, a escola é abastecida integralmente pelas placas solares, garantindo autonomia energética e redução de custos com eletricidade”, explicou.

Ainda segundo o professor, os estudantes e educadores receberam a iniciativa de forma positiva e engajada. O projeto despertou grande interesse, especialmente por seu impacto ambiental e econômico. “O acesso ao aplicativo de acompanhamento energético tornou-se uma ferramenta didática valiosa, permitindo que todos acompanhem em tempo real os benefícios do uso de energia solar”, disse.
Além dos impactos financeiros da geração distribuída, Ubirajara observou um aumento da conscientização sobre práticas sustentáveis, e a integração do tema de energias renováveis no currículo escolar. Para ele, a utilização dos dados de economia energética e gráficos gerados pelo aplicativo como materiais didáticos tem enriquecido as aulas, especialmente nas disciplinas de Ciências e Matemática.

A iniciativa além de gerar energia elétrica tem gerado ainda mais “energia educacional”, fazendo com que cada vez mais professores e estudantes se engajem em projetos e desenvolvam ações voltadas a energias renováveis. “A transição energética incentivou professores a organizarem projetos educacionais que utilizam os dados de economia energética e o aplicativo como recursos didáticos”, explica.
Estes projetos incluem atividades como a análise do consumo de ar condicionado, estudos sobre a eficiência energética e a elaboração de gráficos e relatórios baseados nos dados reais de produção e consumo de energia. “Essas iniciativas têm promovido um aprendizado interdisciplinar e prático, engajando os estudantes em temas atuais e relevantes”, compartilhou ainda o educador.
Além do retorno financeiro, outros efeitos da transição energética também foram sentidos pelos estudantes, como é o caso do Maurício Arthur, de 18 anos, estudante do ensino médio da EEFM Aloysio Barros Leal.
Para ele, a energia solar também trouxe conforto, já que foi possível, com o retorno energético, instalar aparelhos de ar-condicionado nas salas de aula. Além de proporcionar uma conscientização nos alunos a respeito das possibilidades das energias limpas.
“A implantação dos painéis nas escolas, além de facilitar o acesso ao ar-condicionado, algo que sabemos que a grande maioria não tem em casa e que ajuda nos estudos propondo um local mais confortável para os estudos, também nos deixa mais tranquilos, já que a fácil manutenção permite que os incidentes com as instalações das escolas sejam menos recorrentes, propondo uma estabilidade maior em dias de aulas, além de indiretamente conscientizar os alunos de escola pública da possibilidade da utilização de fontes de energias limpas”, afirmou.
Funcionamento técnico
Alfredo Serejo explicou ainda que o projeto contempla a instalação de usinas de geração de energia elétrica por meio de sistemas solares fotovoltaicos instalados nas escolas. Cada escola possui painéis fotovoltaicos que convertem a energia solar em elétrica e essa energia retorna para a rede de distribuição por meio de equipamentos específicos, conhecidos como inversores de frequência.
A modalidade de geração distribuída, na qual as escolas estão inseridas, permite que a energia consumida da rede, possa ser abatida da gerada localmente, proporcionando assim uma considerável economia financeira.

Cenário da energia limpa e educação no Ceará
“O Ceará é um estado que possui um potencial muito grande de geração de energias renováveis, especialmente energia eólica e energia solar”
Raphael Amaral, doutor em Engenharia Elétrica pela UFC.
Segundo relatório divulgado pela ePowerBay – plataforma pioneira no e-commerce e ferramentas de análise para projetos de energia renovável no Brasil – em abril deste ano, feito com base em informações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o Ceará possui cinco dos 20 parques eólicos com os melhores desempenhos do país.
Recentemente, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema) aprovou a licença que permite a instalação do parque de painéis fotovoltaicos nas cidades de Umari e Jaguaretama, no interior do Ceará. Com isso, o estado terá o maior complexo solar da América Larina e o terceiro do mundo.
Ainda no espectro das energias limpas, em janeiro de 2023, a primeira molécula de Hidrogênio Verde produzida no Brasil foi lançada no Ceará e desde então o estado tem solidificado o seu potencial nesta produção.
O doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Conselho do Fundo de Investimento de Eficiência Energética e Energias Renováveis do Governo do Ceará, Raphael Amaral da Câmara, avalia a potência do estado em energias limpas e as possibilidades para o desenvolvimento dessa área.
“O Ceará é um estado que possui um potencial muito grande de geração de energias renováveis, especialmente energia eólica e energia solar. No entanto, o cenário atual dele ainda é muito tímido […] o estado tem muita margem ainda de receber muitos investimentos nessa área, sem contar ainda a questão do hidrogênio verde, que é uma tecnologia ainda que o desenvolvimento”, explica.

O especialista ainda analisa o payback (indicador do tempo de retorno do investimento) da iniciativa, os fatores contrários e o que pode ser feito para contornar os limitadores. Para ele, a instalação de painéis solares é um projeto economicamente viável, mesmo com essa nova legislação da geração distribuída.
“Esse tipo de investimento vale muita pena, porque o que aumentou foi o tempo de retorno em questão de um ano. Aquilo que era por volta de 4, 5 anos de payback, passou a ser por volta de 5, 6 ou 7 anos, mas os painéis têm uma vida hoje entre 25 e 30 anos. Você tem praticamente 20 anos de lucro, 20 anos em que o projeto já se pagou e você vai só colher os frutos desse investimento”, afirma Raphael.
Sobre desvantagens ele explica: “a desvantagem desse meio de instalação é somente o investimento inicial, mas como o governo [estadual] tem essa condição de fazer esse investimento, então ele vai sim ter um retorno aí dentro de, no horizonte de 5 a 7 anos, e depois é só lucro, com os equipamentos ainda tendo aí uma vida ou de pelo menos uns 20 anos”.
O cenário promissor não é diferente na educação. O estado detém 31 municípios entre os 50 melhores do país, segundo o indicador Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ioeb) 2023.
Outro indicador ratifica o posicionamento do Ceará quando o assunto é educação; o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2021, colocou o estado com o melhor resultado do país no Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e no 2º e 3º lugar no Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) e do Ensino Médio, respectivamente.
Iniciativa principiantes
Além dos inúmeros exemplos de como a educação e as energias renováveis são promissoras na região e de como elas trazem um certo destaque para o Ceará, citadas no início dessa matéria, há uma outra iniciativa que ganhou categoria de case de sucesso.
Até mesmo antes da iniciativa da Seduc e Seinfra, mas já pensando na possibilidade da utilização da energia solar como possibilidade de ferramenta educacional e de auxílio da educação, o professor Cleilson Coutinho desenvolveu um projeto que utiliza energia solar para irrigação.
Cleilson Coutinho da Silva, possui graduação em Física pela Universidade Federal do Ceará, pós graduação em nível de especialização no Ensino de Física, também pela Universidade Federal do Ceará e mestrado no Ensino de Ciências e Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Ceará. Atualmente faz parte do projeto H-TEC, que visa qualificar e fortalecer a cadeia produtiva em Energias Renováveis, em parceria com o Governo do Estado, universidades e indústria.
O especialista implantou, em 2017, na Escola de Ensino Médio Padre Arimatéia Diniz no município de Cascavel, interior do Ceará, um sistema com micro unidade geradora off-grid (energia solar), sendo essa a primeira parte da iniciativa. As outras duas, conforme ele explicou em entrevista à UrbNews foram:
2. Implantar uma horta escolar, automatizar o processo de irrigação com sistemas inteligentes com robótica educacional (arduíno) e todo esse sistema era alimentado com energia solar fotovoltaica. Sistema totalmente independente.
3. Implantar e associar ao núcleo já existente a segunda fonte limpa de geração de energia (energia eólica) com um protótipo de eixo de rotação na vertical. Infelizmente essa etapa não foi realizada.
“Esse projeto/artigo inclusive foi apresentado na Assembleia Legislativa do Ceará como case de sucesso no lançamento do pacto pelo saneamento básico do estado do Ceará”, ressaltou o professor.
Confira a lista de todas as escolas contempladas com a iniciativa da Seduc e Seinfra
1 Fortaleza – EEFM Doutor Gentil Barreira (Conjunto Ceará)
2 Morrinhos – Maria Jose Magalhaes EEM
3 Sobral – EEFM Professor Luis Felipe
4 Tianguá – EEEP Professor Sebastião Vasconcelos Sobrinho
5 Martinopoles – Prefeito Dario Campos Feijo EEM
6 Forquilha – Gerardo José Dias De Loiola EEEP
7 Santa Quitéria – EEM Maria Neusa Araujo Moura
8 Quixeramobim – EEM Doutor Andrade Furtado Ii
9 Caririaçu – Paulo Barbosa Leite EEEP
10 Tabuleiro Do Norte – EEEP Avelino Magalhães
11 Araripe – EEEP Valter Nunes De Alencar
12 Pereiro – EEEP Professora Maria Célia Pinheiro
13 Arneiroz – Maria Dolores Petrola EEM
14 Parambu – Ana Noronha EEM
15 Caridade – EEMTI Jose Nilton Silveira Franco
16 Fortim – EEM Helenita Lopes Gurgel Valente
17 Ocara – EEEP Maria Mosa Da Silva
18 Guaraciaba Do Norte – EEEP Deputado José Maria Melo
19 Acopiara – Liceu De Acopiara Deputado Francisco
20 Mombaça – EEEP Professor Plácido Aderaldo
21 Fortaleza – EEFM Professor Aloysio Barros Leal
22 Pacajus – EEM Padre Coriolano
23 Canindé – Colégio Estadual Paulo Sarasate
24 Crateús – CEJA Professor Luiz Bezerra
25 Crato – EEEP Maria Violeta Arraes De Alencar Gervaiseau
26 Icapuí – EEM Professor Gabriel Epifânio Dos Reis
27 Miraíma – EEMTI Vicente Antenor Ferreira Gomes
28 Pentecoste – EEMTI Tabelião José Ribeiro Guimarães
29 Juazeiro Do Norte – EEFM José Bezerra Menezes
30 Aurora – EEEP Leopoldina Gonçalves Quezado
31 Iguatu – EEM Maria Daurea Lopes
32 Maracanaú – EEM Eudes Veras