O País celebra, hoje, o Dia Nacional da Cachaça. A Urbnews, então, convida os leitores a refletirem sobre o protagonismo das mulheres nesse reino etílico. De fato, nos últimos anos, um movimento notável vem tomando forma no Brasil: a crescente ascensão de mulheres bartenders no universo da bebida, um cenário historicamente dominado por homens. Essa transformação, impulsionada pelo fortalecimento do papel feminino na coquetelaria, destaca-se não apenas pelo aumento da presença de mulheres nos balcões de bares especializados, mas também pelo protagonismo que elas têm assumido na valorização e na reinvenção do mais icônico dos destilados brasileiros.
Essa expansão feminina é vista positivamente pela sommelière Leiliane Pinheiro. À reportagem da Urbnews, ela disse ser “fantástico o crescimento das mulheres nesse mercado. A cachaça é a bebida mais brasileira, que leva a nossa assinatura. A gente junta essa criatividade feminina, com a mulher dentro do bar, todos ganham, principalmente, quem vai se sentar nesse bar”.
Sobre a cachaça em si, ela afirmou que a bebida “permite várias possibilidades, ela é uma base de drink muito versátil e tem aquele espírito realmente brasileiro. Assim, esse espaço que a mulher ganha nesse lado do bar é fantástico.”
Ela relembra a tradição da bebida ao nosso paladar, que vai além da caipirinha. “A cachaça está em todos os lugares, dos mais simples aos mais sofisticados, e a caipirinha não perde o seu trono. Mas há várias outras misturas, pois o cenário de possibilidades está muito maior. A alta coquetelaria, aliada à cachaça, com as mulheres dentro desse negócio, todo mundo ganha”.
O universo da cachaça, até então marcado por uma visão estereotipada e restrita à masculinidade, agora está sendo redescoberto sob a ótica das mulheres, que trazem novos ares à maneira de consumir e apreciar a bebida. Essa reviravolta não é mero acaso: ela é o reflexo de uma maior conscientização acerca da equidade de gênero e do reconhecimento da expertise feminina em áreas tradicionalmente vistas como masculinas.
A sommeliere Karime Loureiro relata à reportagem que “a gente sempre ouviu falar em barmen, como se os homens tivessem roubado essa profissão. Na década de 1980, isso começou a mudar, quando foi adotado o nome de bartender. Hoje, temos o mixologista, um termo um tanto recente, que é um especialista em coqueteis, criando bebidas, uma parte mais criativa mesmo”.
Preconceito
Ela conta que ainda há preconceito residual quanto à aceitação das mulheres nesse mercado. “De uma década para cá, a gente está vendo aí um protagonismo maior das mulheres como bartenders. Ainda há muito preconceito, lembro do caso de um homem que esperou duas horas até chegar um homem no bar para preparar o seu drink. O cliente alegou que as mulheres não faziam ‘drinks fortes’”.
Mas Karime segue otimista. “Há muitas mulheres que vão buscar as raízes, de valorizar o que é nosso, e muitas mulheres estão fazendo drinks com cachaça, valorizando um insumo local. E há muitas mulheres talentosas nesse mercado aliado ao fato de que a cachaça é protagonista de muitos drinks”.
Evolução
A bartender Fernanda Lobão confessa à reportagem da Urbnews que sempre foi uma apreciadora da cachaça, e comemora as possibilidades que a bebida oferece hoje. “As coisas estão evoluindo. Muitos bares e restaurantes estão colocando drinks autorais à base de cachaça. É uma área em expansão. Você pode ser freelancer, pode ser instrutor, consultor, mixologista, enfim, trabalhar em todas as áreas que abrange o bar”. Ela enaltece o fato de a bebida ser democrática. “Qualquer pessoa que bebe pode consumir cachaça, pois existem cachaças de todo tipo, fracas, fortes, com sabores etc”.
De tudo isso, conclui-se que a cachaça representa mais do que um simples ingrediente; ela é um símbolo cultural, uma herança brasileira que pode ser explorada em camadas de sabores, aromas e histórias. E as mulheres, com criatividade, leveza e graça, têm muito a contribuir nesse universo.
A Data
A cachaça, símbolo autêntico da brasilidade, é um destilado que carrega em sua história séculos de tradição. Pesquisas da Embrapa indicam que sua origem remonta ao século XVI, nas fazendas de cana-de-açúcar e engenhos, sendo inicialmente produzida pelos negros escravizados.
Por muito tempo, a cachaça foi relegada a um status inferior, associada ao consumo das classes menos favorecidas. No século XVII, a bebida enfrentou a repressão da coroa portuguesa, que proibiu sua produção e venda, culminando em uma revolta dos produtores brasileiros contra as imposições lusitanas.
No entanto, em 13 de setembro de 1661, a rainha Luísa de Gusmão revogou a proibição, permitindo que a cachaça voltasse a ser produzida e comercializada no país. Essa data é, hoje, comemorada como o Dia Nacional da Cachaça, celebrando a importância desse destilado na cultura nacional.