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Lula diz que governo não terceiriza responsabilidade por queimadas e alfineta Musk nas Nações Unidas

Lula usou parte de seu discurso na ONU para fazer uma crítica velada ao empresário Elon Musk, dono da rede social X, banida do Brasil por decisão do Supremo Tribunal Federal
Lula disse que não é possível intimidar-se por corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei. Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira (24), que o governo não terceiriza responsabilidade pela onda de queimadas que assola o Brasil. Ele também usou seu discurso na ONU para fazer uma crítica velada ao empresário Elon Musk, dono da rede social X, banida do Brasil por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

“O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global. Dois mil e vinte e quatro caminha para ser o ano mais quente da história moderna. Furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de mortes e de destruição”, disse Lula.

“No sul do Brasil tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. O meu governo não terceiriza responsabilidades nem abdica da sua soberania”.

Em outro trecho de seu discurso, Lula fez uma referência a Musk, sem mencioná-lo nominalmente.

Plataformas

Disse que não é possível intimidar-se por corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei.

“O futuro de nossa região [América Latina] passa, sobretudo, por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação. Que não se intimida ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei”, declarou.

“A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras. Elementos essenciais da soberania incluem o direito de legislar, julgar disputas e fazer cumprir as regras dentro de seu território, incluindo o ambiente digital”.

Lula discursou na manhã desta teça na 79ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Como é tradição, o presidente brasileiro foi o primeiro líder a falar, depois do presidente da Assembleia-Geral, Philemon Yang (Camarões), e do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Depois da abertura da Assembleia-Geral, Lula participará ainda de um evento sobre democracia e contra os extremismos, também na sede da ONU. A reunião foi organizada pelos governos do Brasil e da Espanha.

Cúpula do Futuro

Lula discursou no mesmo plenário da Assembleia-Geral no domingo (22), durante a Cúpula do Futuro. O evento é iniciativa de Guterres, que tenta construir um legado diante dos questionamentos sofridos pela entidade.

Durante a cúpula, Lula disse que o atual ritmo de implementação das metas de desenvolvimento sustentável acordadas pela ONU caminha para ser um fracasso coletivo.

A fala do presidente ocorre num momento em que o governo federal é pressionado por graves incêndios em diferentes biomas.

Brasil enfrenta a maior estiagem já registrada, com recordes de incêndios, cidades sob fumaça e rios com baixo volume de água ou em níveis desérticos. Além da repercussão internacional, o tema virou um problema de política interna para Lula, com governadores da oposição cobrando uma maior atuação na esfera federal.

A pauta do meio ambiente ganhou um contexto ainda mais central na agenda internacional de Lula uma vez que o país presidirá, no ano que vem, a conferência do clima da ONU —a COP30.

A reforma da governança global, por sua vez, é o principal tema de participação do chefe do Executivo na Assembleia-Geral deste ano. Lula participa pela nona vez do encontro das Nações Unidas.

O argumento da diplomacia brasileira é que as estruturas atuais, muitas desenhadas no pós-guerra, não refletem a atual geopolítica internacional.

Em seu pronunciamento em 2023, Lula falou sobre inclusão social, combate à fome e proteção ao ambiente —em particular a defesa da soberania e da preservação da Amazônia. O pronunciamento do ano passado foi desenhado para transmitir a mensagem de que o Brasil estava de volta à arena internacional depois de quatro anos de isolamento do bolsonarismo.

Por Ricardo Della Colleta e Marianna Holanda, da Folhapress

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