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Israel confirma morte de chefe do Hezbollah e entra em alerta

O Estado judeu aumentou ainda mais seu alerta militar, e sofreu golpes pontuais ao longo deste sábado (28)
O Hamas, cujo ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 disparou a atual guerra, em que vinha sendo apoiado de forma algo contida pelo Hezbollah, lamentou a morte do aliado. Foto: Agência Efe/Folhapress

Na maior escalada em um ano de guerra no Oriente Médio, Israel matou o líder do grupo libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, 64, além de diversos outros líderes da facção em um mega-ataque aéreo em Beirute, na sexta (27). O Estado judeu aumentou ainda mais seu alerta militar, e sofreu golpes pontuais ao longo deste sábado (28).

O xeque Nasrallah, um dos mais poderosos atores da violenta política da região, teve sua morte anunciada pelo Exército de Israel confirmada pelo Hezbollah. O grupo disse que ele “juntou-se aos seus grandes e imortais mártires” em nota, e afirmou que continuará o apoio “a Gaza, à Palestina e em defesa do Líbano”.

O ataque da sexta, que envolveu múltiplas bombas capazes de penetrar o bunker subterrâneo em que Nasrallah e outros comandantes do grupo estavam, chacoalhou a capital libanesa. Não se sabe quantas pessoas morreram na instalação, que ficava embaixo de seus prédios residenciais -o governo local contou 6 civis mortos e 91 feridos.

O Hamas, cujo ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 disparou a atual guerra, em que vinha sendo apoiado de forma algo contida pelo Hezbollah, lamentou a morte do aliado e disse que os assassinatos “só tornarão a resistência na Palestina e no Líbano mais determinada e persistente”.

Desde a sexta à noite, quando a ação ocorreu, Israel lançou outros 140 ataques ao Líbano, muitos na mesma região que havia sido bombardeada, a populosa Dahiyeh. “Foi a pior noite que vi em Beirute. Israel enviou mensagens pedindo para as pessoas saírem, e há um êxodo”, disse por mensagem a renomada ativista de direitos civis Mariam Shaar.

O porta-voz principal das Forças de Defesa de Israel, almirante Daniel Hagari, confirmou que a operação contra o Hezbollah segue. Israel viverá “dias desafiadores”, disse, anunciando a mobilização de três batalhões de reservistas a mais para a crise.

Como a Folha de S.Paulo antecipou, o Estado judeu joga com a ideia de uma invasão terrestre para tentar estabelecer o tampão no sul do Líbano que uma resolução da ONU de 2000 nunca conseguiu, apesar dos enormes riscos de a empreitada resultar num atoleiro.

Mais importante, paira no ar a apreensão acerca de uma guerra regional que contamine todo o Oriente Médio, chegando ao patrono do Hamas e do Hezbollah, o Irã. O líder supremo da teocracia, aiatolá Ali Khamenei, conclamou muçulmanos a enfrentar Israel, mas tratou de terceirizar o serviço: “A resistência terá à frente o Hezbollah”.

É um sinal inicial de cautela, que tem marcado a posição do fragilizado regime. O Hezbollah sofreu em dez dias mais danos do que em 18 anos de atrito com os israelenses, que lutaram sua última guerra aberta em 2006.

A operação foi a culminação da escalada por parte de Israel, que declarou ter perdido a paciência após quase um ano de ataques fronteiriços. O Hezbollah lançou estimados 9.300 foguetes e mísseis até aqui, como forma de apoiar o Hamas.

O grupo terrorista palestino havia atacado o Estado judeu de forma inédita e bárbara no 7 de Outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando outras 251. Essa crise segue inconclusa, com o Hamas bastante enfraquecido, mas ainda vivo, e com ao menos 64 reféns que Tel Aviv diz estarem vivos.

Assim, a violenta ação de Israel, que começou com pagers de membros do Hezbollah explodindo em uma gigante ação coordenada e teria acabado com a morte de Nasrallah, é objeto de dúvidas acerca da motivação do premiê Binyamin Netanyahu -interessado em manter o poder com o apoio que tem da direita ultrarreligiosa.

Seja como for, dezenas de comandantes e seus substitutos foram mortos nas fileiras do Hezbollah, e o grupo perdeu alegados 50% de seu arsenal de mais de 150 mil mísseis e foguetes. Desde a guerra de 2006, que terminou num empate favorável ao grupo, ele nunca foi tão afetado. Isso leva a dúvidas sobre sua capacidade de reação. Na noite de sexta, quatro horas depois do bombardeio em Beirute, os extremistas dispararam 65 projéteis contra o norte de Israel.

Ao longo deste sábado, foram 19 alertas em centenas de localidades pelo Estado judeu, principalmente ao norte. Assentamos judaicos na Cisjordânia foram mirados: a Folha ouviu duas explosões enquanto conduzia uma entrevista às 11h (5h em Brasília) na cidade de Qebatiah, perto de Jenin.

Pouco depois, veio a confirmação israelense da morte de Nasrallah, que era dado como desaparecido durante a noite e manhã. Não houve celebração naquela roda de palestinos: “Vai tudo piorar aqui”, disse o líder comunitário Muhammad Ansari.

Há ponderações de outra natureza. O Irã, que banca o Hezbollah e o Hamas, além de outros grupos da região, pode com essa degradação do Hezbollah perder um grande anteparo entre o poderio de Israel e suas forças.

Isso pode tanto levar a teocracia iraniana a ainda mais comedimento, para evitar se expor e talvez tentar salvar o arsenal restante dos aliados, ou a emular o comportamento de abril -quando lançou sem sucesso militar 330 mísseis e drones pela primeira vez na história contra Israel.

Naquela ocasião, contudo, havia uma vingança pontual em curso, devido ao ataque israelense à embaixada iraniana em Damasco, na Síria. Quando o morto era um convidado ilustre a Teerã, o então líder do Hamas Ismail Haniyeh, as promessas de dura retaliação ficaram no ar. Nasrallah é um peixe ainda mais graúdo do que foi Haniyeh. O clérigo ascendeu ao poder em 1992, depois que Israel matou seu antecessor, Abbas al-Musawi, com o disparo de um míssil de um helicóptero.

De um movimento lateral no caldeirão de disputas sectárias da guerra civil libanesa (1975-1990), onde mal teve papel ativo, o Hezbollah passou ao status de mais importante força armada não estatal do mundo. Nasrallah e sua proximidade com o Irã, que então começava a expansão de sua estratégia de uso de prepostos contra EUA e Israel, foram instrumentais para isso.

Sem Nasrallah e com toda sua cadeia de comando machucada pela ação de Tel Aviv, é incerto como será o poder de recuperação do Hezbollah. Os próximos dias serão vitais para descobrir para onde a crise vai: se haverá uma escalada pelo que sobrou do Hezbollah e pelo Irã, ou se por outros atores como os houthis do Iêmen.

No fim da tarde de sábado, Israel interceptou um míssil dos rebeldes iemenitas que colocou toda a região de Tel Aviv em alerta. Novas medidas de concentração de pessoas e suspensão de aulas foram adotadas no norte de Israel, em áreas como a Galileia. Já a região central passou a um estado de atenção mais alto. O órgão regulador da aviação europeia sugeriu a suspensão de voos para Tel Aviv e Beirute, medida de resto já implementada por váiras empresas.

Nos últimos dias, Netanyahu manobrou entre um anúncio de proposta de paz para a região envolvendo múltiplos atores e a reafirmação de sua intenção belicista no discurso proferido na ONU poucos minutos antes do ataque a Beirute. Resta agora saber quem piscará primeiro, e se Israel irá manter o pé no acelerador, visando talvez a invasão terrestre que anda a ameaçar contra as posições do Hezbollah no sul do Líbano. Até isso tudo se definir, a tensão ficará em nível máximo.

Com informações de Igor Gielow, da Folhapress.

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