A trajetória de estudos para concurso público não é um caminho fácil. Dúvidas, inseguranças, sacrifícios, noites mal dormidas e dias intermináveis de dedicação sem qualquer garantia de que o resultado vai chegar. Mas para Bárbara Castro, de 29 anos, essa jornada se tornou um pouco mais fácil após se agarrar à fé em Nossa Senhora de Nazaré que, por sua vez, retribuiu.
Natural de Teresina, Piauí, Bárbara se mudou para Belém do Pará aos 13 anos de idade, quando passou a compreender a grandeza do Círio de Nazaré. “Eu sabia o que era, mas não tinha noção da dimensão. E realmente é muito diferente quando você está lá, você vê as pessoas ao seu redor vivenciando aquilo, principalmente o paraense que desde criança cresce com isso, sabe? É muito diferente”, explica.
O que mais a impressionou foi a energia do Círio, que toma conta de Belém nos dias que antecedem os festejos. Essa atmosfera única motivou a jovem Bárbara a participar anualmente das celebrações, mais especificamente da Trasladação, romaria noturna que antecede a Grande Procissão. “É mais fresquinho e tem menos gente também”, justifica. Em 2019, porém, ela vivenciou um momento especial que mudaria sua vida.
Naquele ano, enquanto assistia à Trasladação ao lado de amigas em frente ao seu ex-colégio Marista, Bárbara recebeu uma “mensagem” de Nossa Senhora. Do grupo de cinco jovens, apenas ela e uma outra amiga concurseira foram abordadas por uma devota desconhecida, que lhes entregou um kit com uma fitinha do Círio e uma caneta esferográfica azul. O objeto, simbólico para quem estuda para concursos, foi logo interpretado como um sinal.
“Em concursos você está sempre se perguntando se está no caminho certo, se é realmente aquilo pra sua vida, se continua, se desiste… Eu estava com muitas dúvidas na minha cabeça, primeiro ano estudando, ia pedir à Nossa Senhora pela minha aprovação e aí eu recebi isso. Pra mim foi um sinal, de ‘é esse o teu caminho, segue que vai dar certo’”, relembra. Foi então que veio a promessa de Bárbara: se aprovada, faria a Grande Procissão pela primeira vez.
Uma promessa de fé
Dois anos de tentativas e uma pandemia depois, veio a sonhada aprovação. Empossada como procuradora do Estado de Alagoas em abril de 2022, garantiu a passagem para Belém em outubro. Na Grande Procissão, pagou sua promessa carregando sobre a cabeça, como manda a tradição, uma representação do objeto que simbolizava a graça alcançada: um Vade Mecum de 2,5 kg, o livro de leis inseparável dos concurseiros.
A experiência deste Círio foi marcante para Bárbara. “Tem momentos que você fica ‘Meu Deus, no que foi que eu me meti?’. Porque fica apertado, fica quente, é sol, é suor, você está subindo ladeira… Mas quando Nossa Senhora passa, parece que não aconteceu nada”. Apesar do empurra-empurra que se intensifica com a chegada da berlinda, ela sentiu como se todos à sua volta seguissem um acordo silencioso de respeito na presença da Imagem Peregrina.
“É uma paz. Ao mesmo tempo que tem gente cantando, que tem as homenagens, é como se fosse um silêncio. Se você fecha os olhos e começa a rezar é como se não tivesse mais ninguém ali, só você e ela. É muito louco”, relata. “O que mais choca é ver o nível da fé das pessoas, o quanto elas entregam, confiam, é muito muito bonito”, diz ela ao lembrar de cenas emocionantes, como pessoas fazendo o trajeto de joelhos.
Para Bárbara, o Círio vai além da devoção pessoal; ele também une famílias e tradições. O almoço do Círio, por exemplo, é uma das partes mais esperadas das celebrações. Ela conta que na maioria das casas devotas à santa o almoço só pode sair quando a Imagem Peregrina chega na Basílica, ao fim da Grande Procissão, independentemente de se os membros da família faziam parte da romaria.
Além disso, ela reforça que é a ocasião ideal para comer as comidas típicas do Pará. “O almoço do Círio é maniçoba, pato no tucupi, açaí, camarão, tacacá… Você pode até comer essas comidas em outro dia, mas no Círio, é certeza”. Ela também menciona o aroma característico da maniva cozinhando para o preparo da maniçoba nos dias que antecedem o evento, algo que para ela se tornou o “cheiro do Círio”.
Hoje, Bárbara se considera apaixonada pela celebração e pela santa, que a acompanhou em sua jornada pessoal e profissional, sendo a fonte necessária de motivação para impulsionar seus estudos. Seu testemunho é mais um entre milhares de histórias de fé e devoção que fazem do Círio de Nazaré uma das maiores manifestações religiosas do mundo.