Entre agulhas e linhas, um som invade os corredores do Cuca da Barra: o motor da máquina de costura traz um sopro de esperança e expectativa de uma vida melhor, transbordando pelas mãos de mulheres que costuram a mudança para uma realidade mais digna e confortável.
Como se alinhavassem sobre um tecido imaginário, que as vidas de Salvadora Saraiva, de 52 anos, Maria Lucimar Lima, de 72 anos, Cristina Raquel, de 53 anos, e tantas outras mulheres se unem no Projeto Costurando o Futuro. Além da paixão pela costura e identificação com a profissão, essas mulheres encontraram dentro do projeto algo em comum: vontade de viver e viver melhor.



Para a mais velha, o programa, que conheceu por coincidência ao levar os netos ao Cuca, se apresentou com uma reinserção no mercado de trabalho e no artesanato. Aprendendo a profissão do zero, dona Lucimar conta que hoje domina a máquina de costura e faz o próprio dinheiro. “Eu aprendi a fazer crochê e depois comecei a costurar, aprendi a costurar, porque eu não sabia. A gente costurava no papel, e após isso aprendi a costurar (…) Eu gostei muito, me encontrei”, lembra Lucimar.
Além da função econômica, o Costurando o Futuro entrou na vida de dona Salvadora como um incentivo a vida. Em um processo depressivo, a costureira encontrou forças na rotina, nas amizades feitas no curso, e viu ali incentivo em uma nova profissão. “Depois da pandemia eu peguei uma depressão muito grande, ficava em casa sem conseguir fazer nada (…) eu soube do costurando e eu vim aqui, foi isso o que me levantou. Eu venho todo dia, e eu tenho isso pra mim como se fosse um trabalho mesmo, não só um curso”, enfatiza Dora, como gosta de ser chamada, sobre a importância do projeto para sua cura.
Cristina, por outro lado, conheceu o projeto de forma corriqueira, com a indicação de uma amiga. Em busca de hobbies que a tirassem de um burnout, após lecionar por 33 anos, a professora encontrou na moda e na produção de vestidos um novo caminho de trabalho. Atualmente, Cristina faz, graças às aulas de modelagem, roupas sob medida de crochê. “Eu acho importante até mesmo para gente, eu aprendi a costurar, a modelar. É maravilhoso”, conta.






Longe do ateliê, como funciona a legislação
Antes das linhas e texturas, projetos como este que impactam a vida das mulheres tanto economicamente como socialmente, surgem longe do ateliê. Vindo do poder Executivo, mas com ações e demandas decididas na Câmara Municipal de Fortaleza, o processo é minucioso: entender as necessidades é o principal dever dos 43 vereadores da casa.
Lúcio Bruno, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, explica a sensibilidade e importância da aprovação de ações semelhantes. “O papel da Câmara é justamente esse: incentivar e fomentar o mercado informal na cidade de Fortaleza. Dar a oportunidade para as pessoas terem sua renda própria”, explica o vereador.

O projeto Costurando o Futuro foi criado pela Prefeitura da capital e passou pela Câmara Municipal de Fortaleza como uma política pública mais eficiente, abrangendo novas ações.
Incentivos ao empreendedorismo feminino como este têm se mostrado essenciais e se tornaram recorrentes no poder Legislativo fortalezense. Em 2023, além do “Costurando o Futuro”, a Câmara votou e aprovou pautas semelhantes como a implementação do programa “Nossas Guerreiras”.
Voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade, o programa Costurando o Futuro oferece um espaço compartilhado e gratuito, para quem não tem máquina de costura, proporcionando inclusão produtiva à população e transformando arte em renda. Além disso, o projeto já doou mais 500 máquinas para mulheres cadastradas no programa. Já o Nossas Guerreiras oferece crédito orientado para mulheres de baixa renda, maiores de 18 anos, prioritariamente chefes de família e que desejem empreender.
As chefes de família
No orçamento de casa, os incentivos públicos para o aprendizado de diferentes meios de trabalho fazem a diferença. Ações governamentais como esta são portas para que mulheres possam ter ainda mais autonomia financeira. De acordo com o IBGE, o número de mulheres que se autodeclaram chefes de família tem aumentado Em 2012, 35,7% dos lares brasileiros eram chefiados por mulheres, enquanto em 2023 o número saltou para 51,7%.
O pertencimento ao mercado “é inclusivo e impacta além do fator econômico, mas social”, é o que afirma Cristina. Por experiência própria e convívio com outras mulheres, a crocheteira fala sobre a sensação da autoestima retornando. “Para quem passou dos 50 + é uma sensação de se sentir últil. Garantir uma renda é muito importante. Sentir como se ainda tivesse algo para fazer também. Aqui a gente vê muito desse processo, e eu posso falar por mim que é demais. A gente aprende até como se assessorar no sentido de ser dona da própria vida”, desabafa tranquila a participante do Costurando o Futuro.
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