A Polícia Civil investiga se o contrato de patrocínio do Ceará com a casa de apostas Estrela Bet, assinado e rompido em 2023, era usado para emitir mais de R$ 45 milhões em 85 notas frias em 2023.
Os detalhes do inquérito foram divulgados, primeiramente, pelo jornal “Folha de S. Paulo”. Segundo a investigação, as notas emitidas eram canceladas até 72 horas depois, após serem apresentadas a fundo de investimento como lastro para antecipar valores que o clube, na realidade, não estava programado para receber.
O diretor do Ceará Sport Club, João Paulo, confirmou à Folha que emitia notas para cancelar depois, sem a permissão e o conhecimento da patrocinadora. Ele afirmou ainda que desconhece o inquérito, que é público, e, por isso, não poderia comentá-lo.
“Tinha uma necessidade do fundo de ter lastro [para a operação]. Para confortar essa necessidade do fundo, eu emitia as notas e depois cancelava”, admitiu João Paulo à Folha, negando que exista fraude no mecanismo.
A Polícia Civil informou, por meio de nota, que não se manifesta sobre casos que correm em segredo de Justiça.
A investigação mostra que o esquema funcionava da seguinte forma:
- Ceará pede um empréstimo a um fundo de investimento;
- Como garantia, apresenta uma nota na qual atesta que tem a receber um valor da patrocinadora Estrela Bet;
- Com base nas notas, o fundo de investimento empresta o dinheiro;
- Dias depois, o Ceará cancela a nota usada como garantia
Em detrimento do ato fraudulento, que era proibido por contrato, a empresa Estrela Bet rompeu o acordo em maio de 2023, quatro meses após a assinatura do contrato. O Ceará agora tem outro patrocinador master: a Esportes da Sorte, também do ramo de apostas esportivas.
O relatório dos investigadores aponta que, somente em 2023, o time realizou 40 termos de cessão de crédito, uma espécie de empréstimo, a maioria deles junto a três fundos de uma gestora, que de acordo com a Folha não é investigada.
A ex-patrocinadora considerou que o Ceará estava cometendo um crime, por isso rompeu com o contrato. Agora, João Paulo Silva e outras oito pessoas são investigadas sob suspeita de formação de quadrilha, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.
João Paulo Silva foi reeleito presidente do Ceará em 28 de novembro último, após um ano e meio cumprindo mandato-tampão após renúncia do ex-mandatário, Robinson de Castro, em fevereiro do ano passado.
“Desde que assumi o clube, eu venho sendo atacado por pessoas que não querem uma construção de união no Ceará. Em 2 de dezembro fui procurado por um repórter da imprensa nacional, falando sobre um inquérito policial que está sob segredo de justiça e que meus advogados não tiveram acesso. Inclusive, sustento que esse inquérito pode estar sustentado por documentos falsos”, disse João Paulo Silva em vídeo publicado nas redes sociais há onze dias.
Nota da Polícia Civil
A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informa que não se manifesta sobre casos que correm em segredo de Justiça.
Nota da Estrela Bet
A EstrelaBet esclarece que o contrato de patrocínio com o Ceará Sporting Club foi rescindido em abril de 2024, de maneira formal e dentro das disposições contratuais previamente estabelecidas e comunicadas ao clube. A confidencialidade contratual impede a divulgação de detalhes específicos a respeito do distrato. A EstrelaBet reitera seu compromisso com a integridade e com a conformidade, valores que norteiam todas as suas parcerias, e que está à disposição para contribuir com as autoridades.