O sucesso do filme Ainda Estou Aqui, que atraiu a atenção do público e da crítica, reflete a resistência, a memória e a luta de uma família por justiça em um Brasil marcado pela ditadura militar. Outra produção que retrata o regime autoritário é a obra do cineasta e fotógrafo Jorge Bodanzky, que, mesmo diante da repressão e da censura da época, conseguiu registrar com coragem e sensibilidade os conflitos sociais e a diversidade cultural do Brasil.
Neste cenário, a Pinacoteca do Ceará oferece uma exposição inédita em homenagem à carreira de Bodanzky, intitulada “Que País É Este?”. Com curadoria de Thyago Nogueira, a mostra se concentra na produção do cineasta durante o regime militar e traz uma vasta coleção de imagens e filmes que documentam os conflitos sociais e a diversidade cultural do país, driblando a repressão e a censura.
A exposição conta com parceria do Instituto Moreira Salles (IMS) e apresenta uma seleção de fotografias, reportagens audiovisuais, filmes super-8 e cenas de seus principais filmes, como Iracema: uma transa amazônica (1974) e Gitirana (1975), além de outros registros de sua carreira. Nas projeções, o público é transportado para um Brasil pouco conhecido, onde a resistência e as injustiças sociais são retratadas com uma visão de denúncia e esperança.
Bodanzky se destacou como um cineasta que, ao contrário dos filmes comerciais da época, driblava as limitações do regime utilizando recursos simples, como a câmera na mão e gravações com som direto. Suas produções, que usavam atores não profissionais e roteiros enxutos, tornaram-se uma forma de contrapor o discurso oficial e dar visibilidade a vozes e imagens ocultadas pela censura. A utilização da ficção e da improvisação, em muitos momentos, ajudava a revelar as injustiças sociais e os paradoxos do modelo econômico autoritário, mas também apontavam o papel da ecologia e da educação na transformação do Brasil.
Ao exibir obras de Bodanzky, a exposição não apenas homenageia sua contribuição para a memória do Brasil, mas também coloca o público em contato com uma parte da história ainda viva em diversos debates sociais contemporâneos. As imagens, muitas vezes feitas de improviso, mas sempre com grande compromisso político e social, continuam a questionar as realidades do Brasil.
Essa revisitação histórica ganha ainda mais relevância com o contexto atual. O filme estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello retrata a trajetória de uma família que após ser atingida pela violência do regime autoritário, busca se reconstruir enquanto lida com as marcas do passado. O longa e a exposição de Bodanzky encontram-se em um ponto de convergência, onde a memória da Ditadura Militar se apresenta como um campo contínuo de luta, reafirmando o legado de resistência e a busca por justiça.
CONHEÇA BODANZKY
O paulista Jorge Bodanzky, nascido em 1942, é um cineasta e fotógrafo reconhecido por sua produção inovadora e engajada, especialmente durante o período da Ditadura Militar. Formado em Arquitetura pela Universidade de Brasília, Bodanzky se destacou ao registrar as lutas sociais e as contradições do Brasil, com foco em regiões periféricas e pouco retratadas nas grandes mídias.
Seu trabalho foi marcado pela utilização de recursos simples, como câmera na mão, som direto e atuação improvisada, o que resultou em uma linguagem cinematográfica autêntica e de forte crítica política.
Serviço
Exposição “Que país é este?”, de Jorge Bodanzky.
Quando: Quarta a sábado – 12h às 20h | Domingo – 9h às 17h.
Onde: Pinacoteca do Ceará – Rua 24 de Maio, Complexo Cultural Estação das Artes