Um homem de 31 anos que estava desaparecido desde o último sábado (14) foi localizado na terça-feira (17) em uma área de mata da Floresta Nacional do Araripe, no município de Barbalha, interior do Ceará. Phellipe Adler da Silva Santos, que é empreendedor, participou de um ritual com chá de ayahuasca promovido por uma comunidade local e desapareceu poucas horas após a cerimônia.
A família relatou que o homem saiu da cidade de Juazeiro do Norte rumo ao Sítio Melo, em Barbalha, onde participou do ritual conduzido pelo coletivo Aní Uná — grupo que se define como voltado a práticas culturais e espirituais com uso de recursos da floresta.
Após três dias de buscas, Phellipe foi encontrado por agentes da Polícia do Meio Ambiente no Sítio Malhada, uma área próxima à divisa com o estado de Pernambuco. Segundo os policiais, ele apresentava sinais de desidratação, ferimentos pelo corpo e várias picadas de insetos.
Ele foi imediatamente encaminhado para o Hospital Regional do Cariri, onde permanece sob cuidados médicos.
De acordo com nota divulgada pelo coletivo Aní Uná, Phellipe demonstrou um “comportamento atípico” pouco tempo após consumir a ayahuasca. A organização afirma que avalia previamente se os participantes estão aptos a participar do ritual e que o jovem foi acompanhado de perto durante todo o processo.
Ainda conforme o coletivo, mesmo sob os efeitos do chá, Phellipe expressou desejo de deixar o local. Como não era seguro dirigir nesse estado, ele foi convencido a permanecer na cerimônia. No entanto, momentos depois, teria se afastado do grupo repentinamente, atravessando uma cerca e entrando em uma área de vegetação densa, sem trilhas.
Após o desaparecimento, buscas foram iniciadas com o apoio do Corpo de Bombeiros, que utilizou drones e cães farejadores. Moradores da região também auxiliaram nos trabalhos.
O que é a ayahuasca?
A ayahuasca é uma bebida psicoativa tradicionalmente usada em rituais religiosos por povos indígenas da América Latina. Produzida a partir da mistura de folhas da planta Psychotria viridis e do cipó Banisteriopsis caapi, conhecido também como “jagube”, a bebida provoca efeitos alucinógenos e estados alterados de consciência.
Conhecida também como “cipó dos espíritos” ou “vinho das almas”, a ayahuasca é considerada sagrada por diversas comunidades indígenas. Seu uso se expandiu nas últimas décadas para grupos espirituais e terapêuticos em áreas urbanas.
Estudos sobre efeitos terapêuticos
Uma das maiores pesquisas sobre o uso da ayahuasca no Brasil foi publicada em 2018 pelo Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN). O estudo, coordenado pelo neurocientista Dráulio Araújo, investigou os efeitos do chá no tratamento da depressão resistente.
Segundo os resultados, 67% dos pacientes que participaram da pesquisa apresentaram melhora significativa. Os cientistas observaram que a bebida estimulava regiões do cérebro ligadas à introspecção, imagens mentais e à quebra de padrões repetitivos de pensamento negativo.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que o uso da ayahuasca não é indicado para todos. Pessoas com predisposição a distúrbios mentais, como esquizofrenia, não devem consumir a substância. Também foi reforçado que, embora cause alterações psíquicas temporárias, a bebida não gera dependência química.