O líder espiritual do budismo tibetano, Dalai Lama, afirmou nesta quarta-feira (3) que irá reencarnar após sua morte, dando continuidade à tradição secular da linhagem espiritual. Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, completa 90 anos neste domingo (6) e deu os primeiros sinais sobre o processo de sucessão.
A declaração encerra anos de incertezas. Em momentos anteriores, o Dalai Lama chegou a cogitar ser o último da linhagem. Agora, indica que a tradição seguirá viva. “A tradição da reencarnação continuará”, afirmou em vídeo divulgado por sua fundação.
A sucessão do Dalai Lama é um dos pontos de tensão com a China, que deseja influenciar a escolha do próximo líder como estratégia para reforçar o controle sobre o Tibete. O atual Dalai Lama antecipou essa disputa: “Seu sucessor nascerá fora da China” e pediu aos seguidores que “rejeitem qualquer nome indicado pelo governo chinês”.
No passado, ele também declarou que o próximo Dalai Lama poderá ser uma mulher.
Tradição Budista
A tradição budista tibetana acredita que o Dalai Lama é a manifestação de Avalokiteshvara (ou Chenrezig), entidade da compaixão. Após a morte do líder, monges iniciam uma busca por sua reencarnação, geralmente entre crianças nascidas no mesmo período. O processo envolve sinais místicos, visões e testes com objetos do Dalai Lama anterior.
“Dalai Lama” significa “Oceano de Sabedoria”, e o ritual de sucessão inclui etapas como interpretar a fumaça da cremação, identificar marcas físicas e observar comportamentos da criança. “Antes de morrer, o Dalai Lama costuma deixar instruções e pistas de como poderá ser novamente encontrado.”
História do Tenzin Gyatso
O atual Dalai Lama foi reconhecido ainda criança. Nascido em 1935 como Lhamo Dhondup em uma vila de Amdo, hoje parte da China, foi identificado em 1937 e confirmado em 1939, após reconhecer pertences do 13º Dalai Lama. Segundo relatos, os monges buscavam sinais como “orelhas grandes, pernas com listras semelhantes às de tigre e palmas das mãos com o desenho de uma concha marinha.”
Após o reconhecimento, foi levado a um mosteiro e educado dentro da tradição tibetana. Assumiu o comando do Tibete aos 15 anos, em 1950, durante o avanço chinês na região. Em 1959, exilou-se na Índia, onde vive desde então. Em 1989, recebeu o Prêmio Nobel da Paz “por defender soluções pacíficas baseadas na tolerância e no respeito mútuo”.
A sucessão ainda não tem instruções escritas. Samdhong Rinpoche, da fundação do Dalai Lama, afirmou que a carta com pistas sobre o 15º líder espiritual ainda será divulgada. Segundo Thupten Jinpa, ex-monge e tradutor oficial do Dalai Lama, “ouvi Sua Santidade dizer em algumas ocasiões que não acredita necessariamente que todos os 14 sejam a mesma pessoa”, mas que todos têm “uma conexão especial [com] a linhagem dos Dalai Lamas”.