Fortaleza está testemunhando uma transformação notável em seu horizonte urbano. O mercado imobiliário da capital cearense está alcançando novos patamares de altura, literalmente, com uma série de superprédios que desafiam as expectativas e definem um novo padrão para a arquitetura e luxo residencial.
Com mais de 100 metros de altura, esses gigantes arquitetônicos estão redefinindo não apenas a paisagem urbana da cidade, mas também as perspectivas dos investidores, moradores e entusiastas do setor imobiliário. Mas o que possibilita essas construções vertiginosas e o que elas significam para o cenário imobiliário de Fortaleza?
Neste mês, duas grandes construtoras cearenses, a Mota Machado e a C.Rolim Engenharia, anunciaram que vão erguer no bairro Cocó um prédio de 136 metros de altura. Com 50 apartamentos, o edifício Flora ficará na Rua Bento Albuquerque, 536. As obras deverão ser iniciadas em 2024, com previsão de quatro anos de duração.
Em março, a construtora Dasart deu início às obras do Wave Beira Mar, empreendimento residencial que terá quase 172 metros de altura. Localizado na Av. Beira Mar, número 1696, ele está previsto para ser entregue em julho de 2026. O edifício terá o equivalente a mais de 50 andares, sendo três de estacionamento.
Também está em construção, desde o ano passado, o futuro prédio mais alto da Capital: o Ivens Monumental, com 50 andares e quase 180 metros de altura. A assinatura é da construtora Diagonal, que também tem outros dois projetos de superprédios em andamento: o Edge, de 147 metros; e o Diagonal by Pininfarina, com 170 metros.
Desafiando a altura
Hoje, o edifício mais alto já construído da cidade é o One Residential, na Av. Beira-mar, com seus 165 metros de altura. A previsão da Construtora Colméia, responsável pelo projeto, é concluir os apartamentos e área comum de outubro a dezembro deste ano, com a entrega de unidades durante esses 3 meses.
Yago Andrade, arquiteto da Colméia, explica que existem alguns instrumentos legais que precisam ser liberados para conseguir vencer essa altura. “O primeiro é a outorga onerosa, isso permite que possamos comprar direito de construir acima da altura limitada pelo município”, conta. Essa modalidade legal é prevista no Estatuto da Cidade (de 2001) e no próprio Plano Diretor de Fortaleza (de 2009), mas foi regulamentada somente em 2015.
Com a Outorga Onerosa de Alteração de Uso do Solo, as construtoras pagam à Prefeitura para erguer prédios acima do limite estipulado em Fortaleza de até 25 andares. Essa exceção já é conhecida em cidades muito urbanizadas como São Paulo. Entre 2016 e 2022, a gestão da capital cearense arrecadou R$ 89,3 milhões com a flexibilização, autorizando mais de 45 empreendimentos do tipo.
“No início do projeto do ONE, tínhamos 2 torres de 25 andares. Nosso diretor Otacílio Valente começou a pensar no que esse empreendimento poderia ter de diferencial. Na mesma época surgiu a outorga onerosa, e foi aí que ele teve essa ideia. Ele procurou os projetistas e pediu para por um prédio em cima do outro, que queria uma torre de 50º andares. Isso foi uma quebra de paradigma na cidade”, conta Yago.
Em paralelo, é preciso submeter o projeto à aprovação do Comando Aéreo Regional (COMAR), onde são estabelecidos limites de altura a depender da área estabelecida. “Esse limite é sempre em relação ao mar, por esse motivo edifícios mais próximos à beira mar conseguem ter um comprimento maior de torre”, explica o arquiteto.
Mercado em ascensão
Na visão de Ladislau Nogueira, fundador e CEO da Reali Imobiliária, Fortaleza tem uma localização estratégica e uma das melhores orlas do Brasil, o que potencializa a construção de arranha-céus com foco no segmento de alta e altíssima renda. “Essa verticalização muda nosso landscape e coloca Fortaleza no hall de cidades globais atrativas para investidores nacionais e internacionais”, reflete.
O especialista em imóveis pontua que a média em Fortaleza são os edifícios de 23 andares com 72 metros de altura. “É considerado arranha-céu os edifícios acima de 150m de altura e em Fortaleza estão sendo erguidos 9 arranha-céus, sendo 7 deles com 50 a 53 andares”, explica.
Mas afinal, há demanda no mercado por esse tipo de moradia? Segundo o CEO da Reali, sim: “A demanda por imóveis de alto padrão e luxo disparou no mundo e no Brasil. É um nicho de mercado que segue em alta e uma tendência que já se consolidou também como investimento e proteção de capital”.
Ele traz dados que apontam um desempenho surpreendente do setor imobiliário de luxo no Brasil no último semestre, contrariando as tendências gerais do mercado. “No período analisado, as unidades imobiliárias de luxo lançadas atingiram a marca de 2.4 bilhões, o que representa um aumento de 39,2% em comparação com o mesmo período do ano anterior”, Nogueira relata.