Neste sábado (4), faz duas décadas que uma das escritoras mais primorosas nos deixou: Rachel de Queiroz. Tendo sido a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, a cearense foi também jornalista, tradutora e teatróloga. Rachel deixou um legado que perdura até hoje nas memórias das novas gerações. Seu primeiro romance, “O Quinze”, publicado em 1930, quando a jovem autora estava com 20 anos, é uma das suas principais vitrines no terreno dos escritores.
Retratando a perversa seca que assolou o Ceará em 1915, o romance gira em torno de trabalhadores da região de Logradouros e de Quixadá, no sertão cearense, para a capital, Fortaleza, onde esperava encontrar meios para sobreviver. Em paralelo, narra a história do amor impossível entre a professora “Conceição” e o proprietário rural “Vicente”.
A obra a consagrou no ramo da escrita, tendo sido agraciada com o prêmio “da Fundação Graça Aranha.” “Além do prêmio da Fundação Graça Aranha, a escritora também ganhou diversos outros prêmios, como o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil, em 1970, e o Prêmio Camões, a maior honraria dada a escritores de língua portuguesa, em 1993.”
Raquel também enveredou pelo caminho do jornalismo. Suas primeiras conexões foram na sua terra natal, no Ceará, quando escrevia para o jornal “O Ceará” e colaborava também para o jornal “O Povo”.
Em 1939, quando mudou-se para o Rio de Janeiro, colaborou com o “Diário de Notícias”, “O Jornal” e a revista “O Cruzeiro”, quando publicou o romance “O Galo de Ouro” em folhetins, em quarenta edições.
A partir de 1988 colaborou semanalmente para “O Estado de São Paulo” e para o “Diário de Pernambuco”. Rachel de Queiroz escreveu mais de duas mil crônicas, que foram reunidas e publicadas em diversos livros.
Raquel foi ainda tradutora e teatróloga. Escreveu diversas peças de teatro, entre elas “Lampião” (1953) e “A beata Maria do Egito (1958)”, que recebeu o prêmio de teatro do Instituto Nacional do livro.
Ela traduziu para o português mais de quarenta obras. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura do Ceará. Participou da 21.ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem.
Rachel de Queiroz morreu em 4 de novembro de 2003, aos 92 anos, no Rio de Janeiro, vítima de um ataque cardíaco.
Trajetória política
Ainda em 1931, Rachel conheceu os integrantes do Partido Comunista Brasileiro e, ao retornar para Fortaleza, participou da implantação do partido no Nordeste. “Em 1937, foi presa pelo governo de Getúlio Vargas acusada de ser comunista. A autora permaneceu presa por dois anos. Décadas depois, Rachel de Queiroz, em 1964, apoiou a ditadura militar brasileira, integrando o Conselho Federal de Cultura e o Diretório Nacional da Arena, partido político de sustentação do regime.”
Premiações
Entre as principais premiações recebidas por Rachel de Queiroz estão:
Prêmio Machado de Assis (1957) pelo conjunto de sua obra
Prêmio Nacional de Literatura de Brasília (1980) pelo conjunto de obra
Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará (1981)
Medalha Rio Branco, do Itamarati (1985)
Prêmio Luís de Camões (1993), sendo a primeira mulher a receber essa honraria
Título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000).
Obras de Rachel de Queiroz
O Quinze, 1930
João Miguel, 1932
Caminho de Pedras, 1937
As Três Marias, 1939
A Donzela e a Moura Torta, 1948
O Galo de Ouro, 1950
Lampião, 1953
A Beata Maria do Egito, 1958
Cem Crônicas escolhidas, 1958
O Brasileiro Perplexo, 1964
O Caçador de Tatu, 1967
O Menino Mágico, 1969
Dora, Doralina, 1975
As Menininhas e Outras Crônicas, 1976
O Jogador de Sinuca e Mais Historinhas, 1980
Cafute e Pena-de-Prata, 1986
Memorial de Maria Moura, 1992
Cenas Brasileiras, 1995
Nosso Ceará, 1997
Tantos Anos, 1998
Memórias de Menina, 2003
Pedra Encantada, 2011