Explorado por milhões de candidatos na tarde deste domingo (05), o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano é: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Mas o que é esse trabalho considerado “invisível” e como ele impacta a nossa sociedade?
Historicamente, cuidar da casa, de crianças e pessoas idosas são algumas das tarefas que sempre recaem às mulheres, geralmente sem qualquer remuneração. Juntas, elas formam o que é chamado de “economia do cuidado”.
No Brasil, as mulheres gastam, em média, 22 horas por semana nessas tarefas domésticas sem remuneração dentro das próprias casas, o dobro do tempo dedicado pelos homens, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). As mulheres brancas gastam 21 horas semanais com essa atividade, enquanto as mulheres negras gastam 22,3 horas semanais.
A invisibilidade do trabalho de cuidado não remunerado provoca consequências materiais impactantes na vida dos que se dedicam a essa atividade. Segundo dados da ONG britânica Oxfam, esse trabalho invisível representa uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global.
“Estatisticamente há uma evolução lenta, mas constante, no sentido de haver maiores condições de igualdade no mercado de trabalho para homens e mulheres, entretanto os números ainda são bastante desfavoráveis às mulheres”, afirma Iuri Gregório de Sousa, consultor legislativo da Câmara dos Deputados.
Na discussão sobre a reforma previdenciária na Câmara em 2017, por exemplo, muitos defenderam a igualdade de tempo de aposentadoria para homens e mulheres. Para Gregório, esse ponto de vista ignora “a realidade dos lares brasileiros, onde mulheres, em média, despendem mais horas no trabalho doméstico e, portanto, estariam trabalhando mais horas que seus cônjuges, ainda que os dois fossem empregados.”
Mesmo no caso do trabalho doméstico remunerado é visível o desprestígio que a categoria tem dentro da sociedade. Até o ano de 2013, ano da chamada PEC das Domésticas, os trabalhadores domésticos não tinham seus direitos constitucionalmente equiparados aos direitos dos outros trabalhadores, urbanos e rurais, tais como limitação da jornada diária ou pagamento de horas extras.
O governo brasileiro anunciou, neste ano, a criação de um grupo de trabalho para a elaboração da Política Nacional de Cuidados. A política é voltada para aqueles que cuidam de crianças, de adolescentes, de pessoas com deficiência ou com alguma limitação, trabalho majoritariamente realizado por mulheres.
Redação
Para o professor de língua portuguesa Noslen Borges, da plataforma Clube do Noslen, o tema segue a linha de edições anteriores da prova. “Eu acho que vem dentro do histórico do Enem, que trabalha com problemáticas brasileiras, focando em grupos deixados de lado. Isso faz parte da estrutura do Enem”, diz.
Segundo ele, mais do que uma discussão pertinente, é uma realidade há muitos anos não só no Brasil, mas em todo o mundo. “Com certeza esse trabalho invisível é um tema pertinente e profundo, mas não sei o quanto os adolescentes conseguem discutir sobre isso. E que esse tema não fique só no Enem, mas que essa discussão venha para a sociedade”, acrescenta.
Com informações da Agência Brasil.