A família da brasileira Juliana Marins, que sofreu um acidente durante uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia, no último sábado (21), afirmou nas redes sociais que as buscas pela publicitária de 26 anos foram novamente interrompidas, 3 dias depois do acidente.
“Às 16h do horário local [5h em Brasília], o resgate foi interrompido por condições climáticas. Mas antes já havia sido dito que eles parariam ao entardecer por não operarem à noite”, informou o perfil “Resgate Juliana Marins”, no Instagram.
A página afirmou ainda que Juliana parecia estar a 600 metros do desfiladeiro abaixo. O perfil também fez críticas às autoridades locais da Indonésia.
“O parque segue com a sua atividade normalmente, turistas continuam fazendo a trilha, enquanto Juliana está precisando de socorro! Nós não sabemos o estado de saúde dela! Ela segue sem água, comida e agasalhos! Juliana vai passar mais uma noite sem resgate por negligência!”, escreveu.
E completou: “Aparentemente é padrão nessa época do ano que o clima se comporte dessa forma, eles têm ciência disso e não agilizam o processo de resgate! Lento, sem planejamento, competência e estrutura!”.
O resgate já havia sido suspenso neste domingo (22) também por causa das condições climáticas.
Em nota publicada na noite deste domingo (22), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse ter feito um contato com o governo tailandês para cobrar um reforço na operação de busca e resgate da brasileira. A pasta informou também que enviou dois funcionários da embaixada brasileira em Jacarta para “acompanhar pessoalmente os esforços pelo resgate, que foi dificultado, no dia de ontem, por condições meteorológicas e de visibilidade adversas”.
Turistas falam sobre ‘condições externas’ da trilha
A trilha de dois dias de duração no vulcão Rinjani, na Indonésia, tem um cenário descrito como “de outro mundo” por turistas. O chão de cascalho, nuvens baixas e a vista para o lago Sinara Anak contrastam com o drama vivido pela brasileira Juliana Martins, que desapareceu após um acidente no local.
A publicitária de 26 anos decidiu embarcar em uma aventura sozinha pela Ásia. Passou pelas Filipinas, Vietnã e Tailândia até chegar à Indonésia, no fim de fevereiro. No país, juntou-se a um grupo de cinco turistas e um guia para escalar o Monte Rinjani, com mais de 3 mil metros de altura.
A italiana Federica Matricardi, que fazia parte do grupo, relembrou o esforço da subida e a decepção com a vista encoberta por neblina. As duas, Juliana e a italiana, acamparam e retornaram a trilha na madrugada seguinte, por volta de 5h15.
“Estava muito frio, e foi muito difícil (…) começamos a caminhar juntas e alguns rapazes foram mais rápido”, lembrou, em entrevista ao programa Fantástico. Federica seguiu na frente com outros turistas, enquanto Juliana caminhava com o guia, logo atrás.
O francês Antoine Le Gac, também do grupo, afirmou que as condições eram ruins: ainda estava escuro, com pouca visibilidade e o terreno era escorregadio, iluminado apenas por lanternas.
“Durante a trilha, tínhamos diferenças de nível. (…) no momento do acidente, eu estava bem na frente. Ela estava sozinha com o guia. Era muito cedo, antes de o sol nascer, em condições de visão ruins, com uma simples lanterna para iluminar terrenos difíceis, escorregadios”, contou.
Segundo autoridades locais, Juliana teria caído cerca de 300 metros abaixo da trilha, perto do ponto mais alto da montanha. Algumas horas depois, outro grupo chegou ao local e, com ajuda de um drone, a localizou.
As imagens mostram a brasileira presa em uma fresta da pedra, com dificuldade para se mover. Vestia calça jeans, camiseta, luvas e tênis ー sem agasalho, apesar do frio intenso, e sem os óculos, fundamentais para sua visão, pois tem cinco graus de miopia.
A irmã de Juliana, Mariana Marins, inicialmente duvidou da informação, mas reconheceu a jovem pelas roupas e pelo rosto nos vídeos. Desde então, a família vive à espera de respostas e enfrenta dificuldades para obter informações confiáveis à distância.
“A verdade é que, a gente descobriu isso em contato com pessoas que trabalham no parque, é que a Juliana estava nesse grupo de cinco pessoas, sim, com um guia. Porém, a Juliana ficou muito cansada, pediu pra parar um pouco (…) eles seguiram em frente. O guia não ficou com ela. (…) As informações que a gente tem também, vindas do parque, são de que a Juliana entrou em desespero porque não sabia o que fazer — e aí acabou culminando no sumiço dela. Quando percebeu que ela estava demorando muito, ele chegou. Ele chegou e viu que ela tinha caído lá embaixo”, disse a irmã.
Além do drama, a família ainda precisou lidar com informações falsas. A irmã de Juliana recebeu um vídeo que sugeria que a brasileira já havia sido resgatada e recebido comida e água. A informação, contudo, foi desmentida mais tarde. “Chegamos a comemorar. Foi um choque descobrir que era mentira”, contou a irmã.
O embaixador do Brasil na Indonésia admitiu, em ligação ao Fantástico, que repassou informações incorretas no início, com base em relatos imprecisos das autoridades locais. Ele afirmou também que a equipe de resgate chegou ao local onde Juliana tinha sido vista, mas ela já não estava mais lá. As buscas foram ampliadas com o uso de drones térmicos, mas uma forte neblina interrompeu a operação.
Mariana, que se manteve em contato com autoridades, amigos e voluntários, disse que continuava acreditando: “Eu acredito que minha irmã está viva.”