Um comentário proferido durante o programa “É de Casa”, da TV Globo, exibido no último sábado (4), gerou debate nas redes sociais. O ator manauara Adanilo participava da atração e ensinava a receita de uma tapioca caboquinha, prato típico da culinário amazonense, que leva banana-da-terra, queijo coalho, tucumã e castanha-da-amazônia, como ele mesmo mencionou.
Surpresa, a apresentadora Talitha Morete corrigiu o ator, afirmando que o fruto é conhecido na região Sudeste como castanha-do-Pará.
“É do Pará, é da Amazônia, é do Brasil… tem um monte de nome”, brincou o ator, visivelmente desconfortável, ao ser questionado no programa.
Nas redes sociais, horas após a repercussão do debate sobre o nome do fruto na TV, a ex-BBB paraense Alane se manifestou para defender o nome pelo qual o fruto é amplamente conhecido, especialmente no Pará, seu estado natal.
“É ‘castanha-do-Pará’. Estou falando o óbvio, porque às vezes o óbvio precisa ser dito. Não é ‘castanha-do-Brasil’, não é ‘castanha-da-Amazônia’, é muito simples: P – A – R – Á”, soletrou a dançarina, em um vídeo.
Outra ex-BBB também entrou na discussão. A nutricionista Giovanna Lima se pronunciou sobre a polêmica e disse que a castanha é da Amazônia, mas o primeiro estado a comercializar o fruto foi o Pará, logo todos os nomes estariam corretos.
Apesar de “castanha-do-Pará” ser uma nomenclatura popularmente aceita, a questão não é tão simples. Atualmente, um decreto brasileiro oficializa o nome Castanha do Brasil.
Além disso, segundo o historiador e pesquisador Davi Leal, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o nome mais correto seria “Castanha da Amazônia”, devido à sua origem e à produção predominante na região.
O historiador explicou que a castanha foi frequentemente associada a uma localidade específica, onde era processada ou transportada. Porém, para ele, essa associação não se sustenta, pois a produção ocorre em toda a região amazônica.
“No século XIX, a castanha passou a ser chamada de castanha do Pará, pois a produção vinda do interior da Amazônia seguia para Belém. Já no século XX, desde a década de 1930, a Associação Comercial do Amazonas defendeu a utilização dos nomes ‘castanha do Brasil’ ou ‘castanha da Amazônia”, destacou o professor, em entrevista do g1.
O professor explicou que a associação do nome ao estado do Pará remonta à época em que a região do Amazonas fazia parte da Província do Pará. Além disso, a castanha chegou a ser chamada de “Castanha do Maranhão”, devido aos portos de exportação do fruto no século XVII.
“Chamar de Castanha do Pará reforça a identidade do estado, mas não faz justiça à história, pelo menos não completamente. Até 1850, o Amazonas fazia parte da Província do Pará, ou seja, éramos paraenses. Quando nos separamos, compartilhamos muitos hábitos culturais com toda a região”, esclareceu ao g1.
Produção da castanha
Um levantamento do Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS), mostrou que o Amazonas foi o maior produtor de castanha do Brasil em 2022, com mais de 14 mil toneladas produzidas. O estado ocupa essa posição desde 2016, segundo dados do Instituto Brasileiro e Estatística (IBGE).
O estudo também trouxe dados sobre outros principais estados produtores de castanha: Acre (9.145 toneladas, ocupando o segundo lugar) e Pará (8.807 toneladas, em terceiro lugar).
O nome “correto”
Por fim, não há uma única forma “correta” de nomear esse fruto. Cada termo tem uma origem e contexto que representa diferentes aspectos de sua história e produção.
Apesar de, recentemente, o termo “castanha-da-Amazônia” ter ganhado força, e de outras nomenclaturas já terem adentrado no imaginário popular, cada consumidor tem a liberdade de adotar o nome que mais combine com a sua percepção e a riqueza dessa iguaria brasileira.