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‘Duna: Parte Dois’ entrega uma continuação épica, mas desbalanceada no seu ritmo

Com estreia para esta quinta (29), o filme surge com uma missão próspera: dar continuidade à adaptação do romance escrito por Frank Herbert em 1965
“Duna: Parte Dois” (2024) expande tudo o que o primeiro filme entregou há 3 anos, o melhor e o pior (Foto: Divulgação)

“Quem domina a especiaria, domina a tudo”. Essas foram as primeiras linhas de informação reveladas na continuação de Duna, dirigido por Denis Villeneuve. Sobre uma tela preta, que lentamente se torna clara e árida como o deserto de Arrakis, o cineasta introduz o público a mais um capítulo da jornada de Paul Atreides (Timothée Chalamet), e nos leva a questionar a todo momento em quem realmente detém o poder de comandar a todos.

“Duna: Parte Dois” (2024) surge com uma missão próspera, mas cautelosa: dar continuidade à adaptação do romance escrito por Frank Herbert em 1965, e à um filme de sucesso que muitos consideram o novo marco da ficção-científica no cinema contemporâneo. Dado ao peso da sequência, as propostas de expansão do universo, aprofundamento de personagens e continuação dos rumos desta trama espacial são bastante evidentes, e, felizmente, entregues de forma grandiosa.

Paul Atreides agora se encontra imerso no universo dos Fremen, os seres naturais de Arrakis, junto de sua mãe, Jessica (Rebecca Ferguson). Após a destruição da sua Casa e da morte do seu pai, ele promete vingança contra os terríveis Harkonnen e do intocável Imperador (Christopher Walken) que, supostamente, ordenou secretamente a execução da sua família por motivos políticos e pelo controle das especiarias do planeta deserto.

Ao mesmo tempo que tenta se adaptar à sua nova realidade, o personagem de Chalamet ainda precisa lidar com o peso de ser uma espécie de ser messiânico, intitulado de “Lisan Al Gaib” pelo povo do deserto. Apesar de não acreditar na sua predestinação como o “salvador”, Paul sabe do poder que tem em suas mãos ao manipular a fé de pessoas vulneráveis para fins pacíficos ou egoístas.

As grandes feras de Arrakis, conhecidas como o rosto da franquia Duna (Foto: Divulgação)

Denis Villeneuve não é novato no campo da ficção científica, dado a trabalhos anteriores no distópico “A Chegada” (2016) e no audacioso “Blade Runner 2049” (2017). Sua visão de futuro é gigantesca, mas ultrapassada, a tecnologia dos seus universos é velha, decadente de um tempo que já não mais retorna. Essa mesma estética foi aplicada em “Duna” (2021) e expandida para a sua continuação.

A câmera não tem vergonha de mostrar as grandes naves, armas e construções destes planetas paralelos ao nosso universo, e menos ainda busca esconder as suas implicações aos personagens. Se uma nave de guerra é grande o suficiente para ser uma fortaleza dos Harkonnen, ela também é um ótimo esconderijo para os Fremen formularem seu ataque surpresa. Se um governo é grande demais para comandar o universo, que ele seja repartido em uma Guerra Santa.

A grande escala das cenas de ação, efeitos especiais de ponta e o fervor da batalha tenta, por vezes, suprir a carência de maiores momentos de introspecção dos personagens, apesar destes se destacarem em relação ao filme anterior. Com destaque para a personagem Chani (Zendaya) seu olhar destaca tudo o que suas falas não transmitem: o temor do que está por vir pelas mãos de Paul, a quem ela mesmo confia.

O tema fé ganha destaque ao decorrer da trama, à medida que o protagonista cede aos anseios do Fremen que aceite o chamado do divino. A ficção-científica usa temas da teologia e filosofia como metáforas para o contexto mundial ao redor de suas obras, e por isso que elas se tornam atemporais. O romance de Frank Herbert continua influente até os dias de hoje, e sua relação com o futuro comandado por um messias desconhecido para comandar os desolados é algo que assusta, mas que nos faz refletir.

Timothée Chalamet entrega um Paul Atreides mais ousado e duro, que às vezes beira a loucura para reclamar seu título de “escolhido”. O elenco de apoio está no papel de apoiar a ascensão do jovem, ou de repelir uma tomada de poder pelo ódio. A personagem de Zendaya esconde na sua expressão corporal uma guerreira feroz, mas que possui medo, e se torna o contraponto principal para o surgimento do novo líder de Arrakis.

Como uma boa continuação, a obra também apresenta novos personagens para compor a categoria de amigos e inimigos de Paul. Sem dúvidas, a maior adição ao elenco é o assustador Feyd-Rautha, interpretado com psicopatia por Austin Butler. Por mais que mantenha seu “sotaque Elvis”, o ator encarna o assassino Harkonnen com maestria, e sua imprevisibilidade de ações é suficiente para que se torne um bom antagonista para o longa-metragem.

O assustador Feyd-Rautha, sobrinho do Lorde Baron (Stellan Skarsgård) e próximo líder da Casa Harkonnen (Foto: Divulgação)

Assim como a austeridade macabra de Feyde, filmada de um jeito intimista e aterrador, Villeneuve explora os meandros dos seus personagens com planos fechados em seus olhares e abertos para contemplar o peso das suas ações. A música de Han Zimmer é densa e choca o público com a força de seus golpes, mas ao mesmo tempo é suave e calma para tratar dos momentos mais leves da narrativa. 

Em conjunto com a trilha sonora, a mixagem de som permite o espectador a escutar todos os mínimos detalhes que cercam o planeta desértico: as ondas de areia, o levar do vento, a força dos vermes do deserto, a imponência das naves espaciais e os gritos de guerra, que podem se confundir com uivos de louvor.

No que a continuação expande todos os pontos positivos do primeiro filme, ela também torna mais evidente os problemas que marcam a adaptação. O ritmo pouco cadenciado entre cenas de ação frenéticas e momentos de diálogos mais introspectivos é um dos pontos que deixam a desejar, Somado a isso, a pouca inspiração dos envolvidos em entregar um final que atenda às expectativas somadas em 2h46 min de filme é, de certo modo, decepcionante.

O filme se beneficia de cenas mais leves e próximas ao seu time de protagonistas, em contrapartida de discussões em diálogos e pistas para possíveis continuações que não levam a lugar algum. 

Uma das melhores sequências da obra, e que tem grande chances de se tornar memorável com os próximos anos, é acompanhar o treinamento de Paul para domar a fera do deserto. Aqui os efeitos e o som brilham em conjunto, e vale a nota que a experiência em IMAX ajuda a tornar este momento e muitos outros ainda mais imersivo. Quem puder conferir neste formato, que veja.

Em saldo final, “Duna: Parte Dois” (2024) expande tudo o que o primeiro filme entregou há 3 anos, o melhor e o pior. A construção para a transformação de Paul Atreides de um jovem desolado a um líder de uma revolução religiosa é intrigante e assustadora, mesmo que deixe a desejar na transição das emoções de seus personagens. O elenco carrega o carisma do filme e, felizmente, é ajudado com os grandes planos de paisagem e contemplação do Villeneuve.

Se há poder na fé, que este seja usado para o bem de todos e da revolução do espírito. Aqueles que controlam o poder de influenciar massas não merecem ser dignos do título de líder. Enquanto Atreides busca vingança, sua sede de poder leva a si próprio e a seus mais próximos à destruição moral. O filme, como obra de arte que conversa com o contexto que está inserido, tem o papel primordial de gerar uma reflexão moral no público sobre onde, exatamente, está a sua fé: na paixão, ou no medo.

“Duna: Parte Dois” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29).

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